eu prevejo, eu sinto a tua presença, mas não mais que a tua ausência, esta que perdura por cada canto de mim. sei que tenho a mania de ser um pouco estapafúrdia, sabes que em mim sempre restou essa parte excêntrica, essa coisa de não deixar de te amar. mas já é hora, não é? tenho lido bastante sobre seguir em frente quando a gente não sabe outra direção para ir. é sobre nos agarrar na única pontinha de esperança que nos aparece. e foi no nosso amor que me segurei firme. me mantive dias sem comer ou beber, me mantive intacta, inamovível. qualquer que fosse o movimento, eu tinha medo de te perder. porque tu sempre foi quem partia primeiro, não importava quantas vezes chegou em minha casa e pediu morada no meu coração. incabível. tu não cabe mais aqui. é hora de partir de vez antes que tu quebre o meu coração em pedaços sem se preocupar em recolher parte por parte outra vez. nós dois juntos somos a ponta do precipício. já era a época em que tu deitava ao meu lado e beijava meus ombros antes de adormecer. já era a época em que dizias 'amo-te'. e agora, o que eu faço com todos os seus discos, nossas fotografias, aquele vinho barato guardado, o que se faz com toda a bagunça que se fez em meu peito? seguir em frente. um passo de cada vez, a um passo de me recair e ir atrás de ti. todavia, não seria recíproco nada que sinto. um passo para frente, três para trás. ainda piso com cuidado para ver se dá pé em todo amor que entro de cabeça. me afogo no raso, e eu não trouxe um bote salva vidas. eu estou aqui, nua, os cabelos esvoaçantes e curtos, o peito do avesso e aberto caso resolva voltar. uma flecha me atravessa o coração. é hora. não consigo mais. adeus.