"Nós pensamos ou somos pensados?! Temos emoções e pensamentos ou eles nos têm?!
Nesses tempos de afobação e pressa, onde o sistema nos incute a obrigação de ter que ganhar a vida, como se ela já não estivesse ganha desde o nosso nascimento, ao menor descuido alimentamos as sórdidas engrenagens que nos induzem a amar as coisas e usar as pessoas.
O quase mantra “ocupado ou desocupado, jamais preocupado” deveria ser por nós mais entoado. Eu mesma precisei romper com uma mescla de preguiça e cansaço para me ocupar com o presente Episódio e despreocupar do compromisso agora não mais pendente.
Por que digo isso?! Para enfatizar que uma coisa é conhecer e até mesmo transferir o conhecimento enquanto informação, bem outra é aplicar o conhecido, passar pelo crivo da prática, da experimentação, que dá liga e confere coerência entre pensamento, palavra e ação.
Ainda que tenhamos uma vivência robusta na auto-observação de pensamentos e de emoções, que se conheça muitas técnicas e se tenha desenvolvido outras tantas, como método de promoção de ajustes necessários para dias menos estafantes e um pouco mais equilibrados, volta e meia, como humanos em construção que somos, chafurdamos na lama mais do que gostaríamos...
Perceber e monitorar as dificuldades do caminho, propondo soluções nelas pautadas demanda “dar-se tempo e espaço”, aprender a rir de si mesmo, exercitar a paciência, a arte de contemplar os tempos de cada qual.
De onde percebo, o que mais costuma faltar na indústria milionária do bem-estar solúvel, que pela venda à granel dilui propósitos, amor próprio e autocuidado em xaropes açucarados de sucesso.
No jogo de forças entre necessidades e temor, a validação comprada cobre o buraco da falta de intimidade com a gente mesmo, com o outro e com a vida.
Daí resgatar a visão mitológica e platônica do amor evolvido com a sutilização dos desejos e refino na busca da beleza... Ainda que Eros (amor) nasça sobre o signo de Afrodite (beleza), é filho de Poros
(abundância) e Pênia (escassez), o que traduz um pouco de sua instabilidade: deseja o que não possui e teme perder o que possui. No embate entre avançar e recuar, o risco de paralisar. Entendido dialeticamente o Amor não é mortal nem imortal, não é pobre nem rico, nem ignorante nem sábio. Ele nos coloca em condições de experiência, de percorrer o caminho entre vazio e preenchimento.
Consciente de sua carência (falta), aspira (busca) beleza e sabedoria. Daí a travessia da alma humana na direção de refinar os graus de beleza, de sutilizar os desejos, do exterior para o interior: dos corpos aos pensamentos, sentimentos e ações; da aparência para essência...
Se o tradicional embate entre TER e SER já causava certo incômodo, imaginem quando o PARECER alimenta a guerra. Impera a ostentação. E não é só no funk, não... Também no meio acadêmico e empresarial, nas famílias, nos grupos de amigos, nos religiosos e espiritualistas.
Voltemos para aquelas perguntinhas iniciais... Nós pensamos ou somos pensados?! Temos emoções e pensamentos ou eles nos têm?! Sem discernimento, autoanálise e pensamento crítico, Minha Gente, tendemos a marionetes... E os que no alto de seu poderio financeiro e hierárquico julgam-se marionetistas, atenção redobrada, muito provavelmente mãos invisíveis os movam... Quem sabe as do mercado?!"
Ana Rita de Calazans Perine