O amor, quando se revela,Â
Não se sabe revelar.Â
Sabe bem olhar p'ra ela,Â
Mas não lhe sabe falar.Â
Quem quer dizer o que senteÂ
Não sabe o que há de *dizer.Â
Fala: parece que menteÂ
Cala: parece esquecerÂ
Ah, mas se ela adivinhasse,Â
Se pudesse ouvir o olhar,Â
E se um olhar lhe bastasseÂ
Pr'a saber que a estão a amar!Â
Mas quem sente muito, cala;Â
Quem quer dizer quanto senteÂ
Fica sem alma nem fala,Â
Fica só, inteiramente!Â
Mas se isto puder contar-lheÂ
O que não lhe ouso contar,Â
Já não terei que falar-lheÂ
Porque lhe estou a falar...
(PESSOA, Fernando. O Amor (1925). DisponÃvel em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000002.pdf. Acesso em: jan 2023)