"Ogunhê!
Jorge sentou praça
Na cavalaria
E eu estou feliz porque eu também
Sou da sua companhia"
Ao som de Racionais MC's (bildung* das quebradas brasileiras), que preenche a nona edição do podcast "Zona de Indeterminação", Verdú e Marcos receberam o filósofo, youtuber, tiktoker e gerador de conteúdo, Audino Vilão, para um bate-papo filosófico sobre sua trajetória e paixão pelo saber em filosofia. Racionais MC's dispensa apresentações e ocupar o fundo sonoro dessa edição é intencional, haja visto que já ocupou e continua ocupando a tela de fundo de qualquer mano ou mina de quebrada; é a trilha sonora do gueto que forma e forja modos de existência que resistem as mazelas e misérias desse país, é o som dos bares e carros da quebrada. Audino Vilão, mente engatilhada da filosofia brasileira, arrasta seguidores interessados em filosofia por todo Brasil e se tornou um fenômeno nas redes e mídias sociais após batizar Nietzsche de o "rouba brisa". De lá pra cá continuou postando vídeos e assumiu a tarefa de se somar a outros que acreditam que a filosofia não é para poucos, mas para muitos ou, pelo menos, para quem se interessar por ela. É com um linguajar fácil, simples e acessível que, desde então, vem falando de Diógenes, Sócrates, Foucault, Sartre e outros pensadores, numa espécie de beabá ou abecedário filosófico, reunindo as questões e problemas desses autores e tornando-as dele e públicas. Afinal, não é isso que fazemos ao nos interessar pela filosofia? Tornamos os problemas de um autor os nossos problemas. É por isso que nunca se tratou de "gosto filosófico", mas de "necessidade filosófica". Necessidade daquele problema que agencia resoluções aqui-agora (Erewhon deleuzeano**). Esse episódio, essa escuta, nos martela e continua abrindo as questões sobre o saber filosófico periférico e a crítica aos porquês da filosofia dificultar o acesso dos novos meios de expressão filosófica. Citando Deleuze, é chegado "o tempo em que já não será possível escrever um livro de filosofia como há muito tempo se faz"***. Abandonaremos o velho estilo, os grandes sistemas de pensamento, mas o faremos só após nos atribuirmos dele. Foi o que Deleuze melhor fez, leu a história da filosofia e abandonou-a posteriormente ou, talvez, criou uma nova forma. Achamos que é o que Audino Vilão faz de melhor e com muita potência. Abram a escuta, só saber chegar!
Notas
*bildung traduz-se por formação cultural, educação.
** Erewhon "traduz-se" por em nenhum lugar e aqui-agora.
*** Deleuze, in "Diferença e repetição", p. 16, Paz e Terra, 2018.
Referências
Usamos os samples dos icônicos álbuns "Nada como um dia após o outro dia" (2002) e "Sobrevivendo no inferno" (1997).
Zona de Indeterminação vai ao ar todas as segundas, às 10h. Periodicamente indeterminando o determinado.
Anfitriões: Mateus Verdú e Marcos Marques
Site: outrasmargens.com.br
Instagram e Facebook @outras_margens
E-mails: zonadeindeterminacao@gmail.com outrasmargens.contato@gmail.com
Produção/edição: Verdú