CONVENTO DA PENHA — VILA VELHA DO ESPIRITO SANTO
Elevado audaciosamente no cume de um rochedo, a 145 metros de altitude, exposto à fúria dos raios e à violência eólia, em seus quatro séculos de existencia, o Convento da Penha tem sofrido avarias e passado por reformas conseqüentes, por transformações e mesmo por algumas transfigurações arquitetonicas.
Dai ressaltarem, em importáncia para a história, os apontamentos de Dom Pedro II sôbre a sua visita àquele convento.
Eles completam, em alguns pontos, o mais extenso documentario da época, escrito pelo ex-Presidente da Província, Coronel Jose Joaquim Machado de Oliveira, e publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Naquele tempo. a viagem de Vitória era feita em barco e existia, ao lado do portão de entrada do convento, um antigo barracão servindo de cais.
O guardião do convento, Frei João Nepomuceno Valadares, providenciou a melhoria desse cais, mandando construir urna ponte de madeira para o desembarque de Suas Majestades e fez levantar um arco, espécie de pavilhão com figuras alegóricas, no comêço da ladeira, para ser iluminado a noite. Fez mais: decorou o convento e preparou assentos especiais destinados aos augustos visitantes.
Naquela manhã de sábado, 28 de janeiro, às 6 horas, dava-se o embarque de Suas Majestades, em Vitória, acompanhados dos seus semanários, do Presidente Veloso e do secretário Dr. Brandão.
Conduziu-os o vapor Pirajá. o qual atravessou a ala das embarcações embandeiradas, no porto, de rujas tripulações e ocupantes se ergueram vivas.
Formou-se um cortejo de barcos atrás do "Pirajá" que, em menos de uma hora, chegava à Vila do Espirito Santo.
"No desembarque" — escreveu o correspondente do Jornal do Comercio - "foi S.M. recebido pela Camara Municipal, pelos oficiais da Guarda Nacional de Artilharia que se achavam em grande uniforme, subdelegado, juiz de paz. professor, e por muitos cidadãos, bem como por um grupo de meninas trajando branco, e que eram guiadas por um caricato de selvagem de nossas matas.
"A Vila do Espirito Santo estava em bulicio e movimento: havia saído do estado de quietismo e paz que lhe é habitual».
E prossegue: "Além de algumas pessoas que acompanharam o vapor, outras já esperavam a S.M. para subirem com êle a fatigante ladeira que precede ao Convento.
Entre essas pessoas estavam o Comendador Monjardim, deputado Pereira Pinto, dois filhos do Exmo. Barão de ltapemirim, Dr. Melo, Sr. Lima e Castro, Dr. Climaco, Dr. Lourenço, Dr. Rodrigues, Tenente-Coronel Sarmento, Coronel João Gomes, Capitão José Marcelino, padre-mestre Sales, padre Duarte, vigário Wanzeller, Tenente-Coronel Malta, Major Henrique e outros».
O Imperador dirigiu-se a uma pequena gruta onde frei Pedro Palácios teria morado, segundo a lenda, em companhia de um cão, um gato e um preto escravo, onde entrou, demorou -se alguns minutos, «fazendo as reflexões e indagações».
Ele anotou: «6 1/2 — 7h. -- Pedra debaixo da qual morava Pedro Palácios leigo.
«O guardião cerca de muro com o seguinte dístico sôbre a porta: Primeira Morada do Fundador deste Convento Frei Pedro Palácios o qual faleceu em 1575". Essa inscrição teria levado Frei Teotônio da Santa Humiliana a repetir os erros, quando a substituiu, quatro anos depois, por uma lápide com legenda em latim, cometendo outro êrro ao afirmar que Pedro Palácios construiu o Convento.