“Você já reparou na pouca representatividade das mulheres negras na política? Apesar de 27% da população feminina se declarar negra, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, mulheres negras representam apenas 2% do Congresso Nacional e são menos de 1% na Câmara dos Deputados.
Como mostramos em nosso relatório “Tempo de cuidar: o trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade“, essa é uma questão mundial: em todo o mundo as mulheres representam apenas 25% dos parlamentares eleitos.
Mas afinal, se são a maioria, por que as mulheres, em especial as mulheres negras, têm tão pouca representatividade política?
A razão da baixa representatividade das mulheres negras na política está em questões estruturais da nossa sociedade: machismo e racismo.
Antes de tudo, as mulheres negras precisam lutar para sobreviver. De acordo com o Atlas da Violência de 2019, 66% de todas as mulheres assassinadas no país naquele ano eram negras. Além disso, 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza, de acordo com a última Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE.
Uma vez garantida a vida e superada a miséria, os desafios continuam. Apesar de, pela primeira vez, os negros serem maioria nas universidades públicas, como aponta a pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil do IBGE, mulheres negras ainda recebem menos da metade do salário dos homens brancos no Brasil.
A primeira mulher negra a ser eleita para uma Assembleia Legislativa no Brasil foi Antonieta de Barros em 1934. De lá para cá, os avanços são inegáveis, mas ainda há um longo caminho a ser trilhado.
A participação política de mulheres vem crescendo, mas quando se trata especificamente de mulheres negras, o déficit é grande. Ainda que uma decisão do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) tenha estabelecido uma cota de 30% para candidaturas de mulheres nos partidos, não existe nada a com relação a questão racial.
O número de mulheres eleitas em 2018 cresceu 52,6% em relação a 2014. Foram eleitas 290 mulheres no total. Para a Câmara Federal, foram 77, sendo 13 delas negras e uma indígena. No Senado Federal, foram 7 senadoras, o que significa 13% do total de parlamentares, porém nenhuma negra.
Garantir maior participação das mulheres negras na política, além de ser um processo de reparação histórica é também uma forma de promover a democracia e a pluralidade de vozes nos espaços de tomada de decisões. Vale lembrar que garantir a participação plena e efetiva de mulheres negras na política e promover a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis estão entre as metas globais do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 – Igualdade de Gênero.”
Apresentação da convidada: E agora, vamos deixar ela mesmo se apresentar, se definir, mas jamais se limitar. Ciete, quem é você no Só pode ser mulher?