Em tempos de pandemia, uma psicanálise experimental e sintonizada com as questões colocadas pela contemporaneidade e pela exacerbação do campo do Imaginário, é o que propõe o psicanalista Altieres Freire*. Através da linguagem cinematográfica e da relação com a câmera nas mais diversas perspectivas, Altieres faz uma costura dos conceitos psicanalíticos com a clínica, abordando a pulsão escópica, a transferência, o recalque e o corpo; também discute a proposta de trabalho com adolescentes para além do senso comum da adaptação social, tema que desenvolve em sua tese de doutorado, abordando as rupturas, deserções e possibilidades de criação para o adolescente em situação de vulnerabilidade.
A história de Altieres com a escrita também passa pelo cenário de ruptura, de questionamento do sistema dominante e da contracultura, resultando na produção de fanzines, estética que serviu de inspiração para as atuais escritas nas redes sociais. E para encerrar, embasado na Esquizoanálise, Altieres discute o conceito de "natural" e o Manifesto Cyborgue, de Donna Haraway, a fim de apresentar uma narrativa utópica de futuro que faça diferença na vida cotidiana.
*Psicólogo, paulistano morando em Curitiba há 8 anos, atua em clínica tateando a esquizoanálise enquanto dobra da psicanálise. Graduado pela Unesp Assis (SP), concluiu mestrado pelo Núcleo de Subjetividades da PUCSP e doutorado pela Faculdade de Saúde Pública - USP. É autor de textos e artigos sobre a relação entre clínica e política na saúde mental, antiproibicionismo, luta antimanicomial e biopolítica.