O fenômeno que ficou conhecido como o Verão do Amor marcou o apogeu do movimento hippie e mudava as regras do jogo no rock.
Junho de 1967. Por um breve momento, a juventude parecia ter tomado conta do mundo ocidental. Naquele mês, tudo o que vinha sendo fermentado nos anos anteriores explodiu em São Francisco, Califórnia, em um fenômeno social que ficou conhecido como Verão do Amor. Cerca de 100 mil jovens rumaram até a cidade para se estabelecer na vizinhança do distrito de Haight-Ashbury. Foi um movimento espontâneo, com frentes em outras partes dos Estados Unidos e na Inglaterra. Os hippies traziam uma mensagem pacifista e a rejeição de um estilo de vida consumista. E, claro, se opunham aos horrores da Guerra do Vietnã.
Não era apenas um modo alternativo de viver. Era também o retrato de uma efervescência cultural que iria mudar o panorama pop. Em 14 de janeiro de 1967, ocorreu o primeiro ponto alto desse processo, o Human Be-In, evento que juntou diversas tribos na Golden Gate, em São Francisco. Esse prelúdio do Verão do Amor reuniu cerca de 30 mil pessoas e juntou palestras, atividades culturais e shows. O mote inicial era protestar contra o decreto que bania o uso de LSD na Califórnia. As drogas lisérgicas eram uma das principais forças da contracultura e tinham como principal guru o doutor Timothy Leary, um ex-professor universitário que decidiu abandonar o sistema. Foi lá que ele entoou a célebre frase “Turn on, tune in, drop out” (algo como “fique ligado, entre de cabeça, caia fora”). Personalidades como o poeta beat Allen Ginsberg marcaram presença, além de diversos artistas que acabaram estabelecendo a cena musical de São Francisco, entre eles The Jefferson Airplane, The Grateful Dead e Janis Joplin & Big Brother and the Holding Company.
Em maio, o cantor Scott McKenzie lançou a canção “San Francisco (Be Sure to Wear Flowers in Your Hair)”, escrita por John Philips, do grupo The Mamas and the Papas. O single vendeu mais de 7 milhões de cópias e se tornou o hino definitivo da era hippie. Mas quando os Beatles lançaram Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, no dia 1º de junho, a contracultura ganhava mais do que um hino – ganhava uma declaração de princípios.
Como profetizou Scott McKenzie, uma quantidade surpreendente de jovens rumou a São Francisco e entupiu as ruas na região de Haight-Ashbury. Muitos deles também foram a eventos como o Fantasy Fair and Magic Mountain Music Festival e o Monterey Pop Festival, que marcou o ápice do Verão do Amor. O festival, realizado de 16 a 18 de junho, reuniu cerca de 60 mil pessoas e hoje é considerado o primeiro grande evento do tipo na história do rock. Vários ícones se consagraram lá, como Jimi Hendrix e The Who, que eram praticamente desconhecidos nos Estados Unidos. Janis Joplin e Otis Redding viraram superastros depois de Monterey. Filhos da cena local, como Jefferson Airplane e The Grateful Dead, também marcaram presença, além de hitmakers como The Mamas and the Papas, The Byrds, Bufallo Springfield, Johnny Rivers e The Association. Paralelamente, Ravi Shankar mostrou a força da música indiana. As memoráveis apresentações foram registradas em um filme homônimo dirigido por D.A. Pennebaker.
O flower power se tornou palavra de ordem. Mas nem tudo era paz e solidariedade. Haight-Ashbury ficou pequena para tanta gente; houve uma explosão do abuso de drogas e da criminalidade. Quando junho terminou, muitos jovens voltaram para casa e São Francisco retornou, gradativamente, a uma certa normalidade. Independentemente disso, o que hoje é visto como apogeu hippie mudou a música, a moda, a cultura pop.
Por PAULO CAVALCANTI - August 2017
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