Quem vê a confiança e a alegria de Veronica Oliveira, hoje, nem pode imaginar o que ela passou alguns anos atrás. Essa mãe, negra, da periferia de São Paulo, precisou se sujeitar a condições precárias com os dois filhos em um cortiço, porque o salário como atendente de telemarketing não lhe garantia o mínimo. A situação a levou a um quadro de depressão profunda e a fez tentar tirar a própria vida. Tudo começou a mudar, no entanto, em 2016, quando ela decidiu se tornar faxineira.
Ao fazer divertidas postagens no Facebook para divulgar o novo trabalho, criou o “Faxina Boa”. Em pouco tempo, tornou-se conhecida em diferentes redes sociais. Só no Instagram, já soma quase 300 mil seguidores.
“Resolvi usar as referências de cultura pop, das coisas que eu gosto – filme, série, anime, de coisas assim, de música – eu usei isso e um texto explicativo ali, dizendo que a partir daquele trabalho, eu ia poder dar uma condição melhor para a minha família”, explica sobre o início. “O texto e a foto viralizaram, então, criei uma página para as pessoas seguirem e saberem sobre o trabalho de faxina”.
Assim, a página “Faxina Boa” se tornou um lugar de resistência e conscientização e permitiu a Veronica encontrar seu propósito: ressignificar a profissão e o modo como via a si mesma.“Quando eu abordo o tema, primeiro, sem esse véu da tristeza, já é uma forma de trazer essa valorização. Quando eu toco em assuntos que as pessoas não costumavam falar, também. Questiono o uso de uniforme; a forma como as pessoas se referem à tia da limpeza…”, destaca.
Atualmente, Oliveira dá palestras e é influenciadora digital. Em novembro, lançou a autobiografia “Minha vida passada a limpo”, em que estabelece uma ponte entre sua realidade e diferentes aspectos de um trabalho ainda subestimado.