Iniciativa realiza as encenações no escuro para estimular igualmente os sentidos dos espectadores
“Uma pessoa cega vem aqui, ela senta e ela assiste em completa igualdade com qualquer pessoa. Não tem nenhum elemento cênico, nenhum elemento teatral que ela perca por ela não estar
enxergando, pelo contrário”, afirma.
As apresentações convidam a plateia a “renunciar à visão”, para que a compreensão da trama aconteça por meio dos outros sentidos. Audição, olfato, paladar e tato são estimulados pelo uso de aromas, música e sensações táteis.
“Eles colocam a gente em cena, porque a gente fica no palco, a gente vê todos os movimentos, todos os ‘andados’, a gente sente a vibração deles ali no palco; a gente participa da cena sem estar. É um negócio indescritível isso que eu estou sentindo”, comenta o radialista Diego Barreto da Silva, deficiente visual que assistiu à peça “Clarear”, uma das quatro montagens do Teatro Cego.
Universo de sensações
No dia em que a produção do Instituto Claro gravou esse episódio, Silva esteve acompanhado de dois amigos: o também radialista e deficiente visual Gabriel da Silva Câmara e da vendedora Maria Clara Aparecida da Silva, que ficou fascinada pelo espetáculo.
“Foi uma experiência surreal. Para a gente, que enxerga, poder entrar nesse outro mundo é muito, muito interessante. A gente está próximo, a gente vê e vivencia isso: entrar no mundo de quem é cego, digamos assim”, comenta a vendedora, que é
namorada de Câmara. “Eu consegui, pelo menos por 45 minutos, entrar no mundo dele, consegui ver a forma que ele enxerga o mundo”, completa.
A advogada Andréa Araújo conta que viveu uma “experiência indescritível”. “Porque talvez se nós enxergássemos o que está acontecendo, nós não teríamos tanta sensibilidade, porque aflora, as coisas vão aflorando. Com a visão, às vezes você perde detalhes que, sem a visão, você consegue detectar: sabores, cheiros, barulhos, música. É impressionante. É uma experiência singular”, confessa.
Clique no botão acima e ouça essa experiência com o Teatro Cego.