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A forca da Musa.

No pensamento grego todas as artes da literatura eram representadas pelas 9 musas, cada uma com sua especialidade e também com suas características físicas. Essas musas concediam a quem lhes invocasse habilidades de oratória, ligadas à sua capacidade de organizar a memória de acordo com a necessidade do poeta. Entendam, que para os gregos, todos os que escreviam eram poetas, inclusive gente como o historiador Heródoto (485 a.e.c. — 425 a.e.c.).

Foi isso que o dionisíaco Friedrich Nietzsche (1844–1900) percebeu e aplicou à sua narrativa filosófica: a forma deve corresponder ao conteúdo.

Logo, cada conteúdo teria sua musa, ou seja, forma de oratória. No entanto ao final de cada uma dessa oratórias, a musa é abandonada. Nesse sentido percebemos duas coisas bem interessantes: primeiro, os gregos de modo geral achavam que as mulheres não tinham “anima” para o pensamento, ou seja, para serem racionais, assim quem invocava as musas eram predominantemente homens.

As musas eram as auxiliares dos homens, sua “logística”: e nesse sentido a infraestrutura do machismo plasmada em sua representação artística; sua superestrutura.

Neil Gaiman (1960-), ao discutir as musas, coloca isso de maneira mais violenta, em uma das histórias de SANDMAN (1988–1996) em sua versão clássica, se não me engano no arco TERRA DOS SONHOS (1990): Calíope, a musa da poesia épica é violentada sistematicamente por dois escritores, justamente para que eles possam ter suas capacidades criativas.

Mais do que alegoria, isso é uma verdade estrutural: dificilmente grandes escritores ou pensadores conseguem sucesso sem ter apoio de alguma mulher, até mesmo como suas críticas: o próprio Nietzsche, Marquês de Sade (1740–1814) , Lord Byron (1788–1824), Liev Tolstói (1828–1862), Albert Einstein (1879–1955), são apenas alguns dos nomes desse tipo de homem.

Nesta peça, inspirada na obra do católico Stephen King (1947-) MISERY (1987), é executado o ritual de sacrifício de uma das outras musas, Melpômene (tragédia).

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