O peso dos sonhos medíocres.
O mundo dos pobres é um local dotado do onírico. Não que os mais ricos não tenham esse tipo de habilidade, mas até mesmo nesse quesito eles não são os principais produtores. Isso inicialmente parece estranho, porém convém lembrar que os pobres sempre são os grandes produtores em todas as sociedades apesar de não usufruir disso totalmente.
O produtos oníricos a serem apresentados aqui são humilhação e o bizarro sagrados. E o local desse tipo de mercadoria é o circo. Tal local surge, no ocidente, do Circo Máximo Romano (167 a.e.c — 549 d.e.c.), onde aconteciam caçadas sagradas criadas em ambientes artificiais especialmente engendrados para isso, além de corridas, malabarismos, prostituição, artistas de ruas, malabaristas, lutas de gladiadores, flautistas, atores e dançarinos, e, acreditem, o culto de seus imperadores para o grande público.
LOGO, ONDE O ONÍRICO MAIS CRUEL AGE, O PODER TAMBÉM INTERAGE.
É fascinante pensar nesse sentido. O poder sempre teve uma relação tortuosa com a diversão do circo, sendo que ele se serve de toda a sorte de coisas que ali acontece, para criar sua própria versão menos onírica de diversão; muitos dos atores de televisão, e a televisão em si, adveio de adaptações de atores e números criados no circo. No entanto o circo sempre foi o local dos humilhados. Lá sua deformidade, seus defeitos, sua perversidade peculiar tiveram lugar.
O CIRCO SEMPRE FOI O DUPLO INVERTIDO DE SUA SOCIEDADE, BRINCANDO COM O FATO DE QUANTO A NORMALIDADE ESTÁ PRÓXIMA DE SUA PECULIARIDADE.
Assim o circo é o local do maravilhoso, mas do maravilhoso mais perverso e cariado, onde os normais que caírem terão sua rede de segurança, mas não se iludam: vão ter que pagar o ingresso para acessarem o espetáculo.
Neste remake do original de 1947, Guilherme Del Toro (1964) apresenta ao desrespeitável público a mais desprezível das bestas humanas: a classe média ascendente caída.
Siga lendo o texto completo no medium.