DREAD IS HERE.
Minha geração sempre teve problemas em expressar seus sentimentos, notadamente os periféricos, e principalmente os homens. Estávamos morando em periferias bastante violentas. Para ver como era complicado, lembro de alguém comentando que por volta de 1993 a Zona Sul de São Paulo tinha tido mais mortes por armas de fogo do que as que houveram na GUERRA DA BÓSNIA (1992–1995) até aquele momento.
Não sorriamos muito, mas riamos bastante. Coisa de quem vive em gueto. Eu particularmente prefiro gueto do que periferia, porque não devemos esquecer que até no Morumbi temos favelas, que não passam de guetos, não centralizados, mas ainda sim, submetidos a necropolítica.
Nesse sentido era muito difícil acreditar em coisas como viver de maneira digna, ou mesmo, convivência tranquila com gente da classe dominante. Meus amigos, aqueles que hoje são reaças, adoravam a palestina e o Yasser Arafat (1929–2004) líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina (1964)) .
Tudo era agressivo, nós padecíamos, como geração, de uma homofobia, machismo e racismo enorme.
Assim, era difícil gostar uns dos outros. Mas gostávamos. Esse talvez tenha sido nosso grande legado, maior até que nossos filhos e outros jovens que tivermos em nossas famílias, a saber:
NÓS ACHAMOS MEIOS DE APRECIAR UNS AOS OUTROS, APESAR DE VIVERMOS EM AMBIENTES DE PURO TEMOR (DREAD, EM INGLÊS).
Como não éramos muito bons com sentimentos, nunca nos comunicamos tão bem verbalmente, o que, dialeticamente, explica nossa atração pelo RAP.
No show que resenho abaixo, finalmente um de nossos grupos favoritos veio cantar o passado que superamos. Mas também um futuro que foi falho.
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