CRÔNICAS AMERÍNDIAS [QUADRINHO] (2021):
Chego cada vez mais à conclusão que sou um homem negro dos quadrinhos, com todas as problemáticas que isso redunda, sejam elas sexuais, étnicas, econômicas e linguísticas. Porque também não sou um homem preto, e sim, pardo. Sei que intelectuais indígenas de peso como AILTON KRENAK (1953) acham essa designação pouco factível, usando uma sentença crítica que acho bem interessante “pardo é papel”.
Mas qual é o papel do pardo no Brasil? Essas pessoas em sua maioria são mestiços que vivem nos entre-lugares da cultura brasileira, que não são aldeados, não são reconhecidos como pretos, nem vistos como brancos, porém, dependendo do momento político, são reivindicados por esses três grupos. Em sua maioria são descendentes bastardos ou não dos povos originários com outros que vieram para essa territorialidade e vivem constantemente mais em conflito com a cultura vigente do que com sua própria cultura.
Discuti um pouco sobre isso quando de minha fala sobre a série TABOO (2017), na qual aparece bem como os pardos sempre foram agregados das culturas originais que os formaram, geralmente desempenhando uma função bem ingrata nas sociedades ocidentais: a de burocracia Américo-latina.
Isso se dá porque sua corporalidade lhes dava acesso paradoxalmente amplo e limitado: frequentavam tanto igreja, quanto o terreiro e a mata: santos, orixás e ervas lhes eram inteligíveis, mas nunca o gestar e o reconhecimento dessas tecnologias do simbólico como integrantes respeitados dessas instituições.
Tal condicionante me fez perceber como esse conjunto de histórias em quadrinhos que resenho apresenta esse tipo de mestiçagem tecnológica se dando, sem necessariamente haver incompatibilidade entre elas, porque os indígenas é que estão controlando o processo em que a cultura branca está sendo introduzida em sua esfera cultural.
A CULTURA DA PÓLVORA.
Siga lendo no medium.