A garganta do motor grita, rugido oco de hálito ferroso
Par perfeito do tilintar indiferente do cartão que bate às 7
E se às 7 não bateu, fim do mês logo ali, tanto mais curto será o equivalente geral Que assim como o trabalho abstrato, a pilhagem concreta se mede em horas
Mas isso, ao menos, não há de ser problema hoje
Pois, se de mal dormido meu corpo geme, o holerite sem desconto canta
Ainda que seja uma canção de justa ira insatisfeita
Espremo o ferro entre os dentes, não os meus, claro
Da morsa, sim, boca sedenta da besta que, no lugar de ossos, tem eixos
No lugar de órgãos, tem engrenagens, e no lugar de uma mente
Tem um acessório de carne e osso, instrumentum uocale à moda romana
Que o que importa pra valer é o que este instrumento que vos fala
Pode acrescentar, ou melhor, o que lhe podem roubar enquanto alimenta a besta Pois, se esta é, aos olhos de seu mestre, poderosa, imparável
E sem a qual o tal instrumento não teria o que fazer, ó mundo invertido
Na realidade, quem não teria o que fazer seria a tal besta sem o falador instrumento Ficaria ela ali babando sua saliva petrolífera, sem poder satisfazer sua fome
E sem poder fazer digestão e cagar mercadorias pro seu afável mestre
Aço rápido. Avanço lento. E a RPM?
Essa é melhor tomar cuidado, pois as revoluções por minuto assustam muita gente A mim nunca assustaram, e digo mais, quanto mais rápido girar a lâmina que corta Aquilo que não quer mudar por insistência de matéria,
Melhor será o acabamento que se dará no futuro a forma que se projeta
Descasca o ferro. Mede. Descasca mais um pouco. Mede de novo
Recua a mesa em avanço rápido. Parece que dá. Não deu. Golpe certeiro! Ai não... Lá se vai, morte por desventura. Que direi aos pais? (vulgo: meu patrão)
Peça tão jovem, na flor da idade. Empalada por fresa mal afiada.
Imagina se fosse gente... pelo menos não daria prejuízo, diriam vocês sabem quem Ai de mim... me entrego às autoridades ou me livro do cadáver?
Pensando bem, nem um nem outro, foda-se! Dou uma limadinha e passo pra frente Que essa peça não é minha, pois se de um lado aí está meu trabalho, aí não estou eu E vou torcer pra que ela não volte pra onde vai
Pois se ela volta quem vai sou eu
E se vou, diferente dela que morreu de mentirinha
Morro de fome de verdade se perco o emprego.
Poeta: Allan Brasil| Interprete : Allan Brasil
Arte Elis e Allan
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