Maria fecundada pela Palavra que escutou
Maria concebeu acreditando e para tal ouvindo (cf. Rm 10,17): da Palavra que ela ouviu, surgiu a fé com a qual ela gerou Cristo. Na simbologia patrística, a concepção de Cristo é apresentada como um acontecimento ocorrido em Maria através da palavra do Anjo penetrada em seu ouvido: «A morte entrou pelo ouvido de Eva (cf. Gn 3,1-6), por isso a vida entrou pelo ouvido de Maria» (Efrém, Diatessaron 4,15.22.)
A fórmula curiosa e que percorreu os tempos - conceptio per aurem - exprime bem a fecundidade da graça em virtude da escuta praticada por Maria que deu origem à devoção da Nossa Senhora do Ouvido. A Palavra de Deus penetrou nela (Maria) pelo ouvido, e a natureza íntima de seu corpo foi santificada. E no mesmo momento começou a gravidez da Virgem: «ninguém mais nasceu a não ser aquele que, tendo entrado pelos ouvidos maternos, encheu o ventre de Maria», (Gaudêncio de Bréscia, Homilia 9).
A escuta tem uma qualidade materna, portanto: a passividade da concepção e a fase da gravidez que se abrem para o ato generativo, que também afeta o ato pedagógico, que, não surpreendentemente, foi pensado fundamentalmente como ato de geração e nascimento: a maternidade não pára no limite biológico, mas percorre o território da formação do gerado.
Maria gera e educa escutando, para que o fio interno que une as diversas dimensões e as várias fases da maternidade seja uma escuta fecunda; ou, dito ao contrário, a fecundidade materna de Maria se expressa em nível generativo e educativo através da escuta.
Para que Maria como Mãe tenha um vínculo carnal-biológico com o Filho, pois carregava o Filho de Deus em seu ventre; como Virgem, ela tem um vínculo pedagógico-ético-espiritual, porque, com sua fé, sempre acolheu a palavra de Deus, guardando-a em seu coração e comprometendo-se a penetrar em seus sentidos, especialmente em seus lados obscuros.
O efeito deste segundo vínculo que Maria tem com Cristo consiste no fato de que cresce não só o Filho, mas também a Mãe: a escuta de Maria da Palavra é, portanto, a causa da expansão multidirecional de sua experiência materna em direção ao Filho.
Ela viveu a sua existência ouvindo a Palavra
A contemplativa de Nazaré
O tempo de Nazaré não pode ser pensado senão como um tempo belo e santo que Maria vive escutando em contemplação. Maria é um exemplo bem-sucedido dessa experiência espiritual, que, mais do que uma das experiências espirituais cristãs, é a própria forma da vida cristã, quando atinge o ápice da interioridade.