Irineu de Lyon tem uma importância capital na teologia e mariologia do século II. Nasceu na Ásia Menor nas primeiras décadas do século II; quando jovem foi discípulo de Policarpo em Esmirna, discípulo por sua vez de João Apóstolo. Homem carismático, profundo conhecedor das divinas Escrituras, sedento de verdade, viajou pelo Oriente e pelo Ocidente para conhecer as tradições apostólicas vigentes nas comunidades cristãs primitivas.
Ele, sem dúvida, conhecia Roma e a tradição romana. Por volta de 177 o encontramos na Gália, em Lyon, onde foi presbítero e bispo. Serviu como pacificador em nome dos mártires de Lyon nas incipientes disputas sobre a data da Páscoa, que arriscava dividir o Oriente do Ocidente: sua última intervenção nesse sentido remonta ao pontificado de Victor (189-198). Não sabemos mais nada sobre ele; talvez tenha morrido mártir, como dito por uma tradição posterior.
Contra a gnose herética, que então se espalhou por toda parte, ele compôs uma obra merecidamente famosa até hoje: Adversus Haereses, contra as heresias, em 5 livros. É uma fonte primária de informação sobre os sistemas gnósticos e sobre a organização das Igrejas.
No original grego apenas passagens e fragmentos sobreviveram; os livros IV e V também são preservados em armênio; toda a obra é conhecida em uma tradução latina do século III, a partir do qual foram feitas tentativas com sucesso para reconstituir o texto grego perdido.
Outra obra menor: Demonstratio praedicationis apostolicae ou Epideixis, em 100 capítulos: uma espécie de catecismo para adultos. Ele só foi preservado em sua totalidade na antiga versão armênia. Possuímos apenas alguns fragmentos de suas outras obras.
A teologia de Irineu é uma forte refutação dos sistemas gnósticos da época do ponto de vista racional, bíblico e tradicional. De fato, ele se baseia nas Escrituras do Antigo Testamento e do Novo Testamento, transmitidas pelos Apóstolos e preservadas e interpretadas pela tradição atual em todas as Igrejas, para demolir as novidades heréticas.
A sua é uma teologia da história, centrada na "história da salvação" ou "economia de Deus" em favor do homem, estabelecida ab aeterno, mas implementada ao longo do tempo por seu Filho, para trazer o homem em sua totalidade de volta às suas origens e o tudo à unidade. Na implementação dessa economia, na qual a Virgem-Mãe ocupa um lugar singular, dois fatores entram em cena, como critérios divinos do plano de salvação: a recapitulação e a recirculação.
De fato, o Verbo, com sua Encarnação, "recapitula" todo o homem (corpo, alma, poderes, etc.) e todos os homens: assumindo o que é nosso por criação, ele nos concede o que é seu: a divindade, o espírito; verdadeiro "novo Adão", àqueles que o acolhem com fé, ele restaura a Semelhança divina perdida.
Isso acontece com um necessário paralelismo de semelhança e antítese com o primeiro Adão: se de fato Adão foi criado da terra virgem por virtude e poder de Deus, o novo Adão também terá origem humana da terra-virgem, por poder e virtude de Deus : esta terra virgem é Maria, de quem o Verbo se torna "primogênito".
Para que toda a realidade do primeiro Adão passe a Cristo, a Virgem, o único meio da natureza humana, deve ser plenamente "homem", de modo algum diferente por natureza de Adão. Se então no paraíso Adão caiu por uma virgem, Eva, por uma virgem, Maria, Cristo recapitulará Adão e as inimizades contra a serpente: somos assim reconduzidos, como postulado do plano de Deus, à antítese Eva -Maria.