Concluindo o episódio do encontro de Jesus no templo, São Lucas relata que partiu com eles e voltou para Nazaré. Praticamente toda a vida de José parece ter se desenrolado aqui em Nazaré. E o que o habitante de uma aldeia remota como Nazaré pode esperar da vida? Trabalho e nada mais que trabalho; todos os dias, sempre com o mesmo esforço. Então, no final do dia, recuperar as forças e começar a trabalhar novamente no dia seguinte. Assim passou a vida de José em seu retorno do Egito, aliás idêntica ao que tinha sido antes, desde o fim de sua infância. Ele provavelmente morreu antes de Jesus começar a vida pública. Em Nazaré, porém, ele foi lembrado ainda mais tarde, e as referências evangélicas especificam que ele foi lembrado sobretudo por sua condição de trabalhador. Quando Jesus começou o seu ministério, tinha cerca de trinta anos e era filho, como se acreditava, de José (Lc 3,23).
Assim São Lucas, depois de ter dedicado um breve relato ao batismo de Jesus, abre os anos da vida pública com sua genealogia. Um pouco mais adiante, por ocasião da visita que Jesus fez a Nazaré - e que rendeu parcos frutos pela incredulidade de seus conterrâneos -, ele relata o comentário do povo espantado com a sabedoria de suas palavras: é ele o filho de José? (Lc 4,22).
Desta vez, São Lucas preferiu recordar José, enquanto foi Mateus quem mencionou a Virgem: Não é filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria? (Mt 13,55).
São Marcos ecoa Mateus: Não é este o carpinteiro, o filho de Maria? (Mc 6,3).
Note-se que o termo "carpinteiro", muito utilizado nas traduções, não é o mais adequado para designar José, nem, aliás, Jesus. Tekton, no original grego com uma palavra que na opinião mais difundida se traduz por "artesão ". José era, portanto, um artesão, um trabalhador que ganhava a vida com as mãos para si e para seu povo.
A identificação da profissão de José com a de carpinteiro deve provavelmente ser rastreada até São Justino, que ele mesmo a usou em seu Diálogo com Trífon. E existe um apócrifo que conta a história de José o carpinteiro. Dada a sua autoridade e o fato de ter escrito no século II, não é de se admirar que, a longo prazo, a tese tenha prevalecido. O termo usado pelo texto grego pode, no entanto, designar tanto o trabalhador que trabalha o ferro quanto o que trabalha a madeira. Santo Ambrósio se expressou por um ferreiro José, e teve alguns seguidores.
Afinal, uma hipótese não exclui a outra, se considerarmos que Nazaré não era uma cidade grande o suficiente para contar, por assim dizer, trabalhadores qualificados: como acontece em povoações pequenas, ao invés de se especializar era costume aprender a resolver problemas cotidianos, para satisfazer as necessidades mais imediatas das pessoas comuns que viviam no bairro; em uma palavra, várias coisas tinham que ser compreendidas. Há também quem traduza o termo grego como mestre construtor, construtor de casas, e alguns autores antigos - sem muito fundamento, na verdade - dizem que José era ourives.