ORÍGENES (m. 254)
Orígenes é uma das maiores figuras cristãs de todos os tempos. Ele viveu em pobreza heróica: andava descalço, possuía apenas uma túnica, dormia no chão, dedicava o dia ao ascetismo, a noite ao estudo das Sagradas Escrituras. Ele foi um exemplo vivo. Ele nasceu por volta de 185 de uma família cristã. Seu pai Leônidas deu-lhe uma profunda educação grega e bíblica.
Após a morte de seu pai na perseguição de Septímio Severo, aos 18 anos foi encarregado da escola catequética pelo bispo Demétrio, que manteve até cerca de 230; depois, por ciúmes e contrastes que o forçaram ao exílio, mudou-se para Cesaréia na Palestina, onde fundou uma nova escola e sua biblioteca ficou famosa.
Ele andou muito, convidado com admiração por bispos e figuras políticas ilustres. Morreu por volta do ano 253/254, na sequência dos tormentos sofridos na perseguição de Décio. As obras de Orígenes são inúmeras: obras de crítica textual, de apologia e sobretudo de exegese. Seu é o primeiro tratado de teologia sistemática, intitulado Os Princípios; o Esaples e a apologia Contra Celso são famosos; acadêmico e espiritual, juntamente com seus comentários e homilias sobre quase todos os livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento.
A maioria dessas obras foi perdida, especialmente devido aos violentos protestos póstumos contra ele e seus escritos. Do que possuímos hoje pouco nos foi transmitido no grego original; quase todos nas versões latinas de Girolamo e Rufino. O fulcro da sua doutrina e da sua espiritualidade muito profunda é a teologia do Logos, o Verbo eterno que se fez homem para restituir ao homem a participação da luz e da graça.
O mistério do Logos caracteriza a história da humanidade e do cosmos, da Igreja e do indivíduo, do tempo e da eternidade: ele é o caminho ao pleroma celeste que conduz ao Pai, o único modo.
Orígenes é teólogo, exegeta e homem espiritual ao mesmo tempo. Ele lê as Escrituras com paixão e tenacidade, sempre partindo do sentido literal, sem descuidar nem um ápice ou um pingo da letra, mas não se detém nisso: procura sempre descobrir o sentido espiritual, aquele desejado pelo Espírito que inspirou a Bíblia e que é iluminado pelo mistério de Cristo, ontem, hoje e sempre; porque o Antigo Testamento é toda profecia de Cristo, e o Novo Testamento é tanto o cumprimento do passado quanto a profecia do futuro, do Evangelho eterno da bem-aventurança do céu. No entanto, para chegar a um autêntico conhecimento espiritual do mistério divino oculto na letra da Escritura, ele sabe que é necessário exercer ao mesmo tempo a renúncia ao pecado e a pureza de coração, pela fé e pelo amor: o homem deve atingir a sua espiritualidade mais elevada, transfigurando-se em Cristo, para conhecer e compreender o que o Espírito diz à Igreja, porque é só um homem espiritual que pode compreender o sentido espiritual da Palavra de Deus, incluindo a Virgem Maria que teve este compromisso de realizar progressivamente o próprio itinerário de conhecimento, que se transformará em vida. Fiel aos princípios que ele colocou à frente de suas tentativas de sistematização dogmática, Orígenes também no caso de Maria se baseia na imutável tradição apostólica: o que a Igreja acredita explicitamente é a base de qualquer estudo doutrinal posterior. Assim, a figura teológica de Maria encontra sua primeira configuração em Orígenes:
1- Maria é a Virgem predita por Isaías,
2- Virgem Santa em corpo e alma,
3- as primícias da virgindade entre as mulheres;
4- é a Virgem que virginalmente concebeu Cristo, o Verbo Encarnado, por poder divino e uma sombra do Espírito;
5- e ela é uma Virgem perpétua, que não conheceu o homem nem antes nem depois da geração do Filho.