Voltei à Praça de S. Pedro, uma semana depois da beatificação do papa João Paulo I. A sua fotografia continua a dançar suspensa na fachada principal da Basílica. O seu rosto transmite alegria e serenidade. Muitas pessoas, antes de entrarem na Basílica, ficam algum tempo a olhar e admirar este rosto que traduz uma vida simples e dedicada ao anúncio do Evangelho.
Muito se escreveu e disse sobre este Papa que sucedeu a S. Pedro durante apenas 34 dias. Realçaram-se muitos dos valores que marcaram a sua missão, insistindo no sorriso que se tornou imagem de marca e carimbo de identidade. Mas o que mais me marcou foi a homilia que o papa Francisco, assumindo tanta fragilidade física, pronunciou na Missa da beatificação. Para não estragar a beleza e profundidade do texto, vou fazer apenas alguns recortes:
‘É importante compreender o estilo de Deus, compreender como age Deus. Deus age segundo um estilo, e o estilo de Deus é diverso do estilo de certas pessoas, porque Ele não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas. Não tem a paixão dos números, não busca consensos, nem é um idólatra do sucesso pessoal. Pelo contrário, parece preocupar-Se quando as pessoas O seguem com euforia e fáceis entusiasmos. Assim, em vez de Se deixar atrair pelo fascínio da popularidade – porque a popularidade fascina –, pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que O segue e as consequências que isso acarreta’.