CONHECIMENTO DE DEUS
Erwin Lutzer
Primeiramente, devemos obter conhecimento de Deus apenas a partir da Bíblia e não a partir de nossas experiências e preferências pessoais. Naturalmente, não acho que seja possível nos isentarmos totalmente das influências culturais, mas, à medida do possível, devemos perguntar o que a Bíblia diz, e não o que queremos que ela diga. Logo descobriremos que o Deus da Bíblia é profundamente diferente de outras divindades. ... Tal como todos nós, enfrento o perigo da idolatria, ou seja, a tentação de fabricar um Deus baseado em minha inclinação e experiência. Cientistas sociais dizem que há fortes evidências de que cada cultura cria os próprios deuses; aliás, tais deuses não podem, na maioria dos casos, ser separados da cultura onde são adorados. Povos ligados à agricultura desenvolvem deuses a partir do sol e da chuva; culturas ligadas ao mar criam um deus mar e lua. Os ocidentais, de modo geral obcecados pelo consumismo e pelo prazer, criaram um deus que é tolerante com nossos estilos de vida, que nos deixa estar no controle e que serve principalmente para nos ajudar a alcançar o máximo do nosso potencial— um Deus "sob medida" para nós.
Creio que ninguém ousaria criar a ideia do Deus santo e transcendente da Bíblia. Esse Soberano põe à prova nossos pensamentos mais ocultos, pede que nos arrependamos e exige adoração que põe fim a qualquer pensamento de auto engrandecimento. Esse Deus... revelou-se a partir do céu. Nossa tarefa é compreendê-lo da maneira pela qual ele optou para se revelar a nós, não do modo que nós achamos que ele seja.
Minha segunda convicção é que, quanto mais claramente virmos a Deus, mais claramente veremos a nós mesmos. Calvino estava certo quando disse que nenhum homem pode conhecer a si mesmo sem que primeiramente conheça a Deus. Na presença do Todo-Poderoso, a vara com a qual medimos nossa bondade é finalmente revelada. Logo, devemos rapidamente confessar, como fizeram os santos antes de nós: "Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" (Isaías 6.5). Felizmente Deus não nos deixa "perdidos", mas estende a nós a cura de sua amorosa graça e de sua misericórdia.
Equipados com o conhecimento de quem somos, estaremos mais bem preparados para ordenar nossa vida de acordo com valores eternos. A inquietação interior dará lugar à paz de saber que pelo menos descobrimos a razão de termos sido criados. Nossa busca por Deus afetará profundamente todos os aspectos de nossa vida. Olharemos para nosso viver, até mesmo para as tragédias, com a fé de Josafá, que confessou: "nossos olhos se voltam para ti".
Em terceiro lugar, quanto melhor conhecermos a Deus, mais intensamente o adoraremos. Quando Jó soube que seus dez filhos haviam sido mortos em uma tempestade, voltou-se para Deus e o adorou. Perceba que, naquele ponto de sua jornada espiritual, ele não tinha ideia do que havia acontecido. Contudo, lemos: “Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se, rosto em terra, em adoração, e disse: Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei! O SENHOR o deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do Senhor” (Jó 1.20,21).
Jó aprendeu a adorar a Deus mesmo se não recebesse explicações. Mesmo sem ser capaz de penetrar a mente de Deus e sem estar inteirado de todos os detalhes dos propósitos ocultos do Todo-Poderoso, Jó sabia que seu lugar era estar diante do Deus em quem confiava.
...