A VISITA RELUTANTE
Linda Schiwitz
Acompanhei a enfermeira corredor abaixo, mas sentia-me meio desanimada. Era uma tarde quente e úmida, o ar cheirava a remédio. De repente, tive vontade de não ter ido até ali.
Uma hora antes, tinha-me convencido de que precisava trabalhar mais para o Senhor. Telefonara para o asilo de velhos, para saber se havia alguém ali que nunca recebia visitas.
Agora entrávamos em um quarto, e a enfermeira disse com voz alegre:
— Agnes, trouxe uma visita para você.
Deitada no leito, estava a velhinha mais feiosa que eu já vira. Seu rosto era muito enrugado, a pele amarelada, e quando falou, notei que só tinha dois dentes de resto.
— Você é do Serviço Social? indagou.
— Não. Só vim fazer-lhe uma visita.
— Mas você não me conhece.
— Agora já conheço. Meu nome é Linda. Como está passando hoje?
— Não estou muito bem.
— Então fique bem quietinha aí, que vou ler para você.
— O que você vai ler?
— A Bíblia.
— Ué, já é Natal?
— Não, por quê?
— Porque no Natal sempre vêm pessoas aqui que leem a Bíblia para mim. Depois vão embora e dizem que voltarão qualquer dia, mas nunca mais voltam. Pensei que você fosse uma dessas pessoas da igreja.
Então pus-me a ler a Bíblia, e ela pareceu gostar muito da atenção que lhe dei. Resolvi, não sem certa relutância, que iria esforçar-me para voltar ali.
Da outra vez, trouxe-lhe alguns bombons. Gostou demais, apesar dos dois dentes. Nas outras visitas que fiz, levei-lhe flores de meu jardim, cartões que meus filhos confeccionavam para ela e um laço de fita para o cabelo. Às vezes dava uma passada rápida, para um breve bate-papo. Aos poucos, Agnes começou a interessar-se pela minha família. Então levei meu marido e os três filhos adolescentes para visitá-la. E continuei a ler a Bíblia para ela, poucos versos de cada vez.
Quando fiquei sabendo que estava para morrer, procurei passar mais tempo em sua companhia.
Certo dia, estava lendo o capítulo quatorze de João: " Na casa de meu Pai há muitas moradas... Vou preparar-vos lugar..." Quando ergui o rosto, vi que seus olhos estavam fechados, então comecei a afastar-me na ponta dos pés.
— Espere! disse ela. Volte aqui.
— Estou aqui, Agnes. O que é?
— Linda, falou ela, será que Jesus está mesmo preparando um lugar para mim no céu?
— Se você crer nele, Agnes, está. E você crê, não crê?
— Agora, creio. E sei que ele me ama. Você e sua família me mostraram isso.
Peguei na mão dela e dei-lhe um leve aperto.
— Como assim, Agnes? indaguei. Como foi que mostramos?
— Você voltou, respondeu simplesmente, e caiu no sono.
O texto desta leitura faz parte do quinto capítulo do livro “Conte Comigo: Deus”, de autores diversos.