“Um escritor que não escreve é, na verdade, um monstro que corteja a insanidade.” Franz Kafka
Dezassete livros publicados, vários prémios literários recebidos, músico - desde o contrabaixo “da outra vida” à guitarra como fiel companheira dos últimos anos.
O papel profissional de João Tordo dispensa apresentações.
Na semana do dia mundial do escritor, fui generosamente recebida pelo João, no seu acolhedor estúdio. Para além de um teste com uma captura de som feita de forma mais profissional, permitimo-nos ter uma conversa completamente descontraída sobre vários pontos da vida real com o à-vontade de uma amizade que a vida fez acontecer e nós conseguimos manter de forma simples.
Sobre a presença (ou não) da espiritualidade no dia a dia e na obra literária.
O poder da reclamação no sentido da afirmação das nossas necessidades e da resolução de problemas.
Sobre a dificuldade do desenvolvimento da individualização em certos contextos familiares e o quanto a vida, a preparação, o treino e o largar das expectativas nos permitem ser muito mais do que se imaginaria ser capaz.
A insegurança do início de qualquer carreira e a experimentação que de certa forma conduz ao conforto.
Sobre ser naturalmente escritor e prazerosamente músico.
As semelhanças da narrativa entre a instrução musical e a instrução literária.
Gostar da “vida interior”, da paz dos dias em que se sabe que não se precisa de muito para se ser feliz. A calma e a tranquilidade após os anos de exploração - os 20’s e os 30’s. As quedas quase necessárias, os momentos de pico de stress do dia-a-dia que fazem parte da experiência individual. A experiência vivida de cada um como processo principal. A importância da inclusão mas também da coerência com espaço temporal em que as histórias de situam.
A reclamação principal em relação à esperança imprudente e disparatada de que a vida deveria correr sempre bem, sem desilusões ou percalços.
Obrigada João por te permitires ser tal como és, esse cidadão da república portuguesa cujas histórias voam além-fronteiras e fazem sonhar e suspirar mas também o cidadão com quem é possível aprender a cada livro, a cada escuta ou diálogo. Obrigada pela tua partilha, pelo teu tempo, pelo teu sentido de humor e pela liberdade de falarmos sobre tudo e sobre nada. E sobretudo pela tua amizade.