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Description

Elas caminham por entre sombras, pausam em ombros improváveis e acendem luzes em olhos que já estavam apagados.

Elas vêm disfarçadas, de gesto pequeno, de silêncio estranho, de uma paz que a gente não sabe explicar.

Elas não pedem licença, não batem à porta, simplesmente atravessam.

E quando passam, deixam tudo revirado. As certezas, os medos, as vontades.


O tempo agora tem outro cheiro — um cheiro de terra molhada depois do incêndio.

De vida que insiste em brotar mesmo depois que tudo parecia perdido.

Não tem espetáculo, não tem manchete, tem um sussurro que sacode as entranhas do mundo.

Porque há dias em que o mundo parece o mesmo, mas a alma sabe que algo virou do avesso.

Um deslocamento invisível, mas real.

Como se as peças do jogo tivessem sido trocadas sem ninguém perceber.

E os que antes zombavam do milagre agora observam em silêncio.


Não é sobre ver, é sobre sentir.

É sobre o arrepio que surge do nada.

A lágrima que escapa sem motivo,

a coragem que reaparece mesmo depois de ter sido enterrada viva.


Algo se moveu.

E mesmo os mais céticos, em algum canto escondido do peito, sabem que o ar está diferente.

Mais denso, mais cheio de possibilidades.

O mundo gira, como sempre girou, mas há uma nova rotação.

Uma frequência mais alta que os distraídos não escutam,

mas que os despertos não conseguem ignorar.


Os corações inquietos voltam a bater no compasso da esperança.

Não aquela esperança frágil e infantil,

mas a que nasce da ruína.

A esperança madura, calejada, que conhece a dor e ainda assim escolhe acreditar.

Não é porque é ingênua, mas porque é valente.

Porque entender o que causa não é o fim.

É só o começo daquilo que precisa nascer do jeito certo.

E talvez, só talvez, esse seja o momento.


Não importa quem deu o primeiro passo.

Importa é o que a gente está se espalhando — o que a gente está espalhando agora.

Uma energia que escapa pelos poros do tempo.

Um tipo de verdade que ninguém consegue esconder.

Está nos olhares que voltaram a brilhar,

nas palavras ditas com mais alma,

nos gestos que resgataram o sagrado que mora no simples.


Está no jeito como as pessoas, mesmo sem se darem conta,

começaram a se curvar diante do invisível.

Não por submissão,

mas por reconhecimento.

Como quem diz: eu sei que tem algo maior acontecendo e eu aceito ser parte disso.