Era uma manhã agradável dos primeiros dias de setembro. Um telefonema irrompe logo cedo. Do outro lado da linha, o irmão de meu marido; ele foi incumbido de dar a notícia e, com voz firme de quem carrega a esperança da eternidade no coração, disse:
- O pai morreu!
Meu sogro havia falecido. As crianças haviam perdido o avô. Arno fez questão de contar a eles. Os olhinhos arregalados e curiosos acompanharam as diversas perguntas sobre o avô, a vida, a morte e o céu.
Muitas questões foram respondidas. Mesmo assim, as inúmeras possibilidades de resposta naquela manhã pareciam tão gigantescas e tão diversas que ficava difícil resumir os últimos instantes de vida do avô em simples explicações - nessa hora a gente entende o quanto uma vida é densa, grande, profunda.
Eu fui para o quarto. Tinha pressa, precisava arrumar as malas para irmos ao velório, para participarmos do enterro. Isabel de modo sorrateiro me acompanhou até o cômodo e, com muita espontaneidade, perguntou:
- Como é morrer, mamãe?
Por alguns minutos eu precisei pensar. Foi uma tentativa de fazê-la esquecer tal pergunta. Não adiantou. Ela pediu novamente:
- Como é morrer, mamãe?
Me aproximei da janela de vidro e, observando a amplidão do céu, lembrei-me de uma homília do saudoso Padre Léo e respondi:
- Morrer, minha filha, é como dormir no sofá e acordar na cama.
Quando você dorme no sofá, o pai carrega você no colo e a leva para a cama. Morrer é semelhante a isso; dormimos neste mundo e o Pai do Céu, que é Deus, vem e nos leva pelos braços até o paraíso.
- Foi isso que aconteceu com o vô Arno?
- Foi, meu amor, foi isso!
Por instantes ela ficou pensando e com gestos suaves, disse:
- Eu quero morrer também, mamãe!
-Você vai morrer, filha, quando estiver bem velhinha, igual o vovô.
Saltitando ela saiu do quarto, e eu com o coração um pouco acelerado voltei a arrumar as malas.
Se não é fácil para nós, adultos, entendermos e aceitarmos a morte, muito mais difícil para os pequenos. Mas a compreensão de que dormimos neste mundo e acordamos nos braços do Pai não somente nos explica este mistério, mas nos enche de esperança. Aqueles que amamos e que não estão mais aqui, repousam nos braços do Pai. E é para este lugar cheio de amor que iremos um dia, ao fim de nossa missão aqui.
Araceli Alcântara