Martin Seligman é aquele grande cientista e professor, pai da “psicologia positiva”, que por causa desse nome muita gente não leva a sério - parece “pensamento positivo”, povo acha que é charlatanismo. Não é. É ciência séria: tem pesquisa, grupo de controle, publicação, avaliação de pares, contestação, reavaliação, novos experimentos comprovando e recomprovando o resultado, por cientista que gostou e, principalmente, por cientista que não gostou do resultado. Isso é ciência.
Pois, antes de inventar a ciência do bem-estar e da felicidade, Seligman estudava depressão e resiliência. Em um famoso estudo, começou a entender o segredo do sucesso: lidar bem com dificuldades. Descobriu que algumas pessoas não acham o erro e a derrota algo ruim; acham uma coisa boa a frustração, pois assim estão melhorando, aprendendo. Anos depois, a professora Carol Dweck ficaria famosa pesquisando e nomeando esse comportamento de “growth mindset”, o mindset de crescimento. As pessoas bem sucedidas sabem que a frustração faz parte da vida, e é vital para aprimoramento.
Digo tudo isso pra falar do fenômeno moderno do álbum de figurinha da Copa. O álbum da copa do ano passado se completava em menos de um mês. Os pais não aguentam ver o filho frustrado - ou melhor, “amam” tanto os filhos que querem que ele fique feliz. E qual o problema de dar um pacote de figurinhas de 4 reais para os filhos? Ou dez pacotes? Ou cem? Eles ficam tão felizes! Eu fico feliz quando eles estão felizes!
Nossa geração foi criada para acreditar que todos os caminhos para a felicidade são através das compras. Aprendemos a misturar desejo e necessidade. Éramos felizes brincando na rua, ralando o joelho, sem luxo algum, mas com pais trabalhadores. E privamos nossos filhos desse ensinamento básico: na vida você tem que batalhar para conquistar.
Uma pessoa que não se frusta não aprende resiliência. Sem resiliência, não aprende o valor do esforço. Sem esforço, não conquista nada. Sem conquistar nada, não é feliz. Tirando frustração dos nossos filhos, arrancamos deles também a possibilidade de serem felizes.
Não me entenda mal: não precisamos ser duros ou agressivos com nossos filhos. Só não precisamos dar tudo que pedem, nem tudo que achamos que querem. Suprir todas suas necessidades é importante. Suprir todos os seus desejos é desastroso. O álbum de figurinhas ficou completo em uma semana; mas a alma, incompleta pra sempre.
Autor: Marcos Piangers