Um dia eu entrei na cozinha e vi minha avó fazendo pão. Ela tinha acabado de sovar a massa, colocou dentro de uma tigela, cobriu com um pano, subiu no banquinho e colocou em cima do armário, lá no alto. E disse: pronto, agora é só esperar a massa crescer.
Eu, criança, fiquei intrigado. Pô, não é mais do que a massa crescer?
Ela sorriu pra mim, com aquele jeito sereno de avó, e respondeu: se eu deixo ela na mesa, sempre tem alguém que passa, tira o pano, espia o que tem dentro da tigela e fica dando palpite, querendo apressar as coisas. Tem gente que, só de curiosidade, cutuca com o dedo sujo pra sentir a massa. Tem gente que até arranca um pedaço pra provar.
A última vez que eu coloquei a massa na mesa, teve uma pessoa que, depois de provar, achou que a massa não tava no gosto dela e jogou sal por cima.
E sabe o que acontece quando mexem na massa? Ela murcha.
Eu fiquei olhando, curioso, e perguntei de novo: não tem jeito de consertar, não?
Ela, de novo com aquele sorriso de canto, ajeitou o pano sobre a tigela e respondeu balançando a cabeça: é, meu filho, às vezes até tem, mas nunca fica igual. Eu posso até tentar ajeitar, acrescentar mais farinha… mas o pão só fica bom quando a massa é guardada. Nunca se esqueça disso, meu filho.
A massa que prepara o seu pão de cada dia precisa ser guardada para que ela cresça. Esconda do mundo curioso a massa do seu pão, para que ninguém atrapalhe o crescimento.
Naquela época eu não entendi essa metáfora, mas eu guardei as palavras dela.
Hoje eu sei que aquela conversa não era sobre pão. E cada vez que eu penso na minha avó subindo no banquinho, eu lembro da lição: as coisas crescem muito melhor no alto, protegidas, debaixo de um pano, até chegar a hora de serem servidas de fato.
Tem sonhos que só viram realidade quando não são apressados.
Feridas que só saram quando param de ser cutucadas.
Perguntas que só viram respostas quando não são interrompidas.
Conquistas que só acontecem quando não recebem conselhos desnecessários.
Amizades que só permanecem quando não precisam ser provadas a todo instante.
Amores que só se firmam quando não recebem palpites.
E ideias que só crescem quando não são podadas.
Se a lição da minha avó também falou com você, guarde aí no seu coração.
E compartilhe com alguém que precisa lembrar de proteger a própria massa do pão.