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Um jovem de 16 anos escreveu para o escritor Fabricio Carpinejar dizendo não querer mais viver. Se sente desajeitado perante a vida e não-amado pelas pessoas ao seu redor. Neste setembro amarelo, vamos repercutir a resposta dada pelo escritor.

“Querido leitor,


Não aguenta mais a sua vida, e pensa em se matar.


Em primeiro lugar, a adolescência é uma encrenca, há a crença de que é a melhor época de nossa trajetória, e que não podemos jogá-la fora. A adolescência não é tão boa quanto os adultos dizem.


A segunda ilusão é não enxergar nada pela frente, a não ser a falta de lugar no mundo.


Você não aguenta mais o seu sofrimento, quer terminá-lo, porém confunde o sentimento com a própria vida. Não são a mesma coisa. Não é terminando com a vida que acaba com a dor.


Repara somente no problema (está dentro dele), e vem um ímpeto de resolver tudo acabando com tudo. Mas a angústia não é tudo, é parte do todo, uma pequena parte.


Ao atacar um inimigo, o seu presente ofendido, atingirá o seu passado e o seu futuro inocentes.


Sei que gostaria de se sentir mais amado, mais festejado, mas a morte não vai torná-lo importante.


Morte nenhuma produz redenção. É sem graça mesmo.


Você superestima a despedida como uma saída. Não é uma ponte, é ir de um vazio velho para um novo vazio.


Não se recrimine pelo pensamento mórbido, é uma fantasia comum: nos enxergamos no caixão, imaginando colegas chorando por nós, pedindo perdão. Colocamos em cena, no nosso velório, os inimigos e desafetos inconsoláveis.


Qualquer um já elaborou essa construção de se observar morto. É um desejo de vingança, de fazer os outros sofrerem o que já sofremos.


Acreditamos que o nosso sofrimento é único. Por isso, a represália. Achamos que somos a exceção, que ninguém é capaz de antever o que estamos passando, que só acontece conosco.


Mas não, todos sofrem parecido, com semelhanças inacreditáveis. Não existe exclusividade.


Fale de sua dor e descobrirá que tem tanta gente igual, procurando um jeito de se acomodar na existência, de encontrar um caminho, de ser ouvido, de deitar nas palavras sem doer.


Não se abrindo, o desespero aumenta. Desabafando, ele diminui. É uma mágica.


Agradeço sua cartinha. Em sua idade também acreditava que não restava nenhuma opção. Vai passar, é uma fase ruim provisória, confie em mim, temos um casamento lindo, dois filhos corajosos e escrevemos tentando ajudar pessoas como nós: intensas.


Abraço"


Fabrício Carpinejar