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Eu tinha cinco anos e talvez por isso só lembre do essencial. E o essencial era: um bolo de brigadeiro com bolinhas prateadas cobrindo ele todo. Aquelas bolinhas pareciam uma coisa de outro mundo, o meu bolo também. Tenho 34 anos e o tempo não foi capaz de gastar a sensação que eu tive quando vi aquele bolo na mesa, logo depois da frase: é o bolo do seu aniversário! Anos mais tarde, minha tia me contou que a decoração fazia parte de um disfarce. Ela tinha queimado uma parte grande, porque era a primeira vez que tinha feito a receita, depois de um pedido aflito da minha mãe. Desesperada com o tempo curto e com o imprevisto, ela correu no mercado e comprou aquelas bolinhas para dar um jeito. Quando ela trouxe o bolo para minha casa, ela só conseguia pensar na parte queimada, mas eu não. Eu tinha cinco anos e com cinco anos a gente sabe canalizar a nossa energia para o que importa. E o que importava era: o meu bolo de aniversário era bonito demais. Nem preciso dizer que foi o bolo mais gostoso da minha vida, né? Além de ter brigadeiro, era prateado. Essa memória me acompanhou até hoje e saltou para me salvar semanas atrás, quando um pico de ansiedade quase fez uma sombra grande numa felicidade recente. E eu digo quase, porque antes dela me tomar por inteiro, eu lembrei desse dia do bolo prateado. E me dei conta que adultecer é diferente de amadurecer. Adultecer é somar idade, amadurecer é saber que o adulto crítico precisa da ajuda da mente plena da criança para olhar as coisas pelo todo. O adulto crítico precisa dar espaço para ela. Enquanto a gente pensa na parte queimada, a criança tá lá canalizando a energia dela pro que realmente importa, a realidade inteira. O episódio é sobre isso. 

Te encontro 00:01? Você vem e chama quem? edição @valdersouza1 identidade visual @amandafogaca texto e voz: @natyops