O quarto episódio da segunda temporada do Podcast Ossobuco, um projeto realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, explora os profundos laços entre o conhecimento ancestral, a natureza e a saúde.
O capítulo apresenta a inspiradora história de Josefa Ataídes, agricultora, herveira, educadora popular, benzedeira e raizeira. Nascida e criada na comunidade Palmeirópolis, Tocantins, sua infância foi marcada pela autossuficiência familiar e pela vida em profunda conexão com a terra, onde o sustento era integralmente produzido. Josefa compartilha sua experiência de ser alfabetizada por uma vizinha e como, após um grave acidente na infância, ela precisou recorrer à medicina "hegemônica", encantando-se com sua capacidade de reconstruir órgãos.
No entanto, a narrativa se aprofunda quando, anos depois, já na cidade e sentindo vergonha de suas origens rurais, Josefa enfrenta uma doença grave. Sua história se torna um testemunho do poder da autoaceitação e da conexão com a terra como chaves para a cura e a vitalidade. Hoje , ela se dedica a viver no campo e a compartilhar a importância de respeitar o solo para a saúde humana.
Para aprofundar essa temática, o episódio recebe Mayra Fonseca, antropóloga e pesquisadora sobre o Cerrado, conservação e saúde. Mayra contextualiza as raizeiras do Cerrado como parte dos povos e comunidades tradicionais, que cultivam um conhecimento profundo sobre as plantas do bioma para a produção de remédios caseiros. Ela destaca que, embora majoritariamente mulheres, as raizeiras (e raizeiros) são "doutoras do Cerrado", desempenhando um papel fundamental na saúde coletiva e comunitária.
A conversa aborda o preconceito histórico em relação a esses saberes, questionando por que um conhecimento é considerado "medicina" e outro "crendice". Ela ressalta que o reconhecimento do saber das raizeiras como Patrimônio Cultural Imaterial é crucial para diminuir esses preconceitos, valorizar essa sabedoria secular e fortalecer as comunidades. Além de agentes de saúde, as raizeiras são vistas como guardiãs e promotoras da conservação e regeneração do Cerrado, pois seu conhecimento intrínseco das plantas e do manejo do território é vital para a preservação do bioma.
O episódio convida os ouvintes a um "reencontro" com essas histórias e conhecimentos, promovendo uma reflexão sobre a riqueza cultural e ambiental do Distrito Federal e a importância de valorizar as raízes do Brasil profundo.