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Nazaré. 11 de abril de 2023

A memória coletiva de um povo guarda-se todos os dias e das mais diversas formas, mas há tarefas ou atividades ancestrais que, em face das transformações das técnicas ou da introdução de tecnologia, começam a cair em desuso ou mesmo a desaparecer. É o que acontece com os calafates, uma profissão que só está ao alcance de grandes artesãos da carpintaria naval e que, por razões diversas, corre o risco de desaparecer na nossa terra. Este é um tema que me toca particularmente, porque o meu tio Zé Joaquim é, efetivamente, o último calafate da Nazaré e tenho dúvidas se ele será capaz de transmitir todo o seu saber a quem queira - caso exista - seguir-lhe as pisadas. Vontade, não lhe falta. Mas candidatos é mais difícil que apareçam. O meu tio aprendeu quase tudo com o último grande mestre desta arte na nossa terra, o sr. António Luís Júnior, cuja oficina lá ao sul frequentei tantas vezes em criança. Sou suspeito para o dizer, porque para mim ele é como um pai, mas ele tem um gosto e um orgulho enormes no que faz, sendo um verdadeiro guardião de uma atividade que está a desaparecer. É, por isso, de valorizar a sensibilidade e o esforço que a Câmara denotou na aposta na recuperação das embarcações que, por estes dias, fazem as delícias de quem nos visita e preservam uma das imagens de marca da nossa terra, pois isso permitiu voltarmos a apreciar o trabalho de um calafate nazareno. E é um trabalho tão nobre... Em criança brinquei muitas vezes nos barcos que ficavam depositados na areia nos meses de inverno, pelo que sei dar o devido valor ao facto de, passados alguns anos, termos sido capazes de apresentar embarcações no areal. Afinal, aqueles barcos fazem as delícias de quem nos visita, dos mais jovens aos menos jovens, e são uma prova da nossa culturalidade.