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Nazaré, 17 de março de 2023

Há poucas terras no nosso país que deem tanto relevo à procissão do Senhor dos Passos como a Nazaré. Até porque se realiza, por responsabilidade da Irmandade do Senhor dos Passos da Pederneira desde 1620 e nem a pandemia de covid-19 a conseguiu travar... Este é um momento particularmente importante para a comunidade local, consistindo numa grande romaria que se desenrola durante três dias. Começa amanhã e prolonga-se no domingo, ligando a Igreja da Misericórdia na Pederneira e o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, no Sítio, e tem o epílogo na segunda-feira com mais uma procissão que envolve os crentes e menos crentes, os católicos praticantes e os não praticantes. Mas tudo começou com o tradicional sorteio das insígnias, um momento particularmente relevante para as famílias. Como tantos outros nazarenos, também já me coube em “sorte” transportar uma imagem. Devia ter uns 10 anos e recordo-me do orgulho que a minha avó Diamantina sentia, ao ver-me na procissão, participando nos 14 passos do senhor, que evocam a paixão e morte de Jesus Cristo. Há coisas que nos marcam, mesmo que, no momento em concreto, não lhe prestemos a devida atenção. Mas este é também um momento de reencontros, ou não fosse a irmandade composta por milhares de irmãos, muitos deles a residir em Peniche e, claro está, a nossa comunidade emigrante. Há tradições que, espero, nunca venhamos a perder. E esta é uma delas, até porque mesmo quem não acredita em Jesus fica impressionado com a dimensão desta manifestação religiosa. Porque a fé depende de cada um de nós e não deve ser imposta.