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Valado dos Frades, 16 de março de 2023

O Festival de Jazz do Valado foi um dos vários certames a nível nacional que, este ano, perderam o financiamento do Estado, por terem ficado de fora da seleção ao Apoio Sustentado às Artes para programação. A notícia apanhou todos de surpresa, não apenas pelo relevo do festival e da importância que tem tido no acesso a um género musical pouco associado à chamada província, mas também devido à alteração de critérios de quem decide este tipo de coisas. Mudar as regras a meio do jogo é, digamos, pouco digno de quem gere os dinheiros públicos, mas no nosso país já nada nos devia, efetivamente, surpreender. E quando temos um ministro da Cultura que apenas parece interessado em fazer diferente e a comprar obras de arte para o Estado, chega-se facilmente a uma fórmula que prejudica o interesse público. Valado dos Frades é uma vila pequena de um concelho pequeno, mas teve uma coletividade grande, neste caso a Biblioteca Instrução e Recreio, que ousou pensar e fazer diferente num tempo em que era mais fácil ficar de braços cruzados à espera de subsídios. Os anos passaram, o festival de jazz consolidou-se e educou novos públicos, mas, eis senão quando, os critérios para a atribuição do apoio às artes mudaram e, pasme-se, passaram a ser valorizados, entre outras questões, a criação de postos de trabalho. Como se fosse possível à BIR contratar funcionários para tratar do festival durante os doze meses do ano… A decisão ainda é passível de recurso, mas a esperança na reversão é pouca. O mais inacreditável é ler a descrição do evento no site da DGArtes: “Este Festival nasce numa coletividade, Biblioteca Instrução e Recreio, que foi fundada para combater o analfabetismo na população rural, em 1933, sendo pioneiro na divulgação do jazz na região centro!” O maestro Adelino Mota e os voluntários que tratam do festival e farão a edição deste ano mesmo sem apoio da DGArtes não mereciam tamanha desconsideração.