Nazaré, 22 de fevereiro de 2023
Não há dia mais triste na nossa terra do que a quarta-feira de cinzas. É um dia de sentimentos contraditórios. Temos a noção que o Carnaval não pode durar para sempre, mas não aceitamos a despedida. O regresso à normalidade, à rotina diária, tem sempre um quê de tristeza. Afinal, é neste dia que percebemos que o Carnaval só volta daqui a um longo ano e, por isso, custa aceitar a realidade que a sociedade nos impõe, mesmo sabendo que os dias que passaram foram de alegria e folia, sem regras e estatutos sociais que afastem a nossa comunidade. Até o baile de quarta-feira de cinzas tem esse algo mais de nostalgia. É como se fosse um momento de reconciliação com a realidade, em que a loucura das marchas dá lugar a temas que permitem aos pares deambular pela sala sem correr o risco de serem atropelados pela turba em fúria. Este é o momento de fazer o balanço deste Carnaval, de recordar momentos vividos e meter a conversa em dia. Só mesmo no fim da noite, quando se aproxima o correr da cortina é que, para gáudio dos presentes, temos direito a uma "seriezinha" de marchas. Por uns meros minutos, temos direito a pensar que o Entrudo é eterno. E é. Dentro do coração dos nazarenos.