Nazaré, 8 de maio de 2023
Ontem foi dia de a Nazaré se engalanar para receber a Festa do Homem do Mar, com procissão em terra, doze barcos no mar e toda uma comunidade envolvida num evento que diz muito a todos nós. Na nossa terra costuma dizer-se que quem não rema, já remou, porque todos temos na família pais, tios, sobrinhos ou avós que foram ou são pescadores. No meu caso, nunca tive apetência pela pesca, pois na família não tínhamos barcos. Mas toda a minha origem familiar, em várias gerações, tem ligação à venda do peixe, pelo que desde cedo tomei contacto com a realidade dos homens do mar, das dificuldades e da incerteza que a atividade profissional acarreta, da instabilidade financeira e da falta de condições de segurança de quem faz da pesca vida. Como tantas outras crianças da minha geração, nasci antes do Porto de Abrigo ser inaugurado e brinquei nos barcos que estavam depositados no inverno na praia. Eram tempos em que éramos felizes com pouco. Brincávamos aos pescadores, aprendíamos a remar em terra e simulávamos tantas vezes como seria enfrentar a fúria das ondas com a bravura daqueles verdadeiros heróis. Hoje em dia, a profissão de pescador continua a ser olhada de soslaio por muitos quadrantes, como se todos os jovens, homens ou mulheres, tivessem de ser engenheiros, doutores ou arquitetos. No entanto, quero acreditar que está a crescer na sociedade a noção que a pesca é uma atividade essencial à nossa condição humana e que, por isso, aqueles homens do mar merecem mais respeito do Estado e, pelo menos ao nível do sistema de aposentações, que reconhecesse o desgaste da profissão.