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Nazaré, 24 de março de 2023

Há coisas que damos por adquiridas e que não nos metemos a pensar como são feitas. Nem onde. E, por vezes, temos boas surpresas. Ficámos a saber esta semana que as Câmaras da Nazaré e de Castanheira de Pêra pretendem estreitar relações, por forma a preservar uma tradição antiga que liga as duas localidades, dado que é no concelho do norte do distrito de Leiria que ainda se fazem os barretes dos pescadores. É uma boa notícia esta relação de proximidade e, sobretudo, o facto de que em Castanheira de Pêra está em curso a instalação de um Museu do Barrete. Depois da crise nos finais dos anos 80, esta arte é apenas mantida naquele concelho por uma empresa, daí que medidas como estas façam todo o sentido, pelas mais diversas razões, mas, desde logo, pela preservação de um património único. Castanheira de Pêra ganhou exposição mediática pelas piores razões, devido aos incêndios de 2017, precisa de projetos que alavanquem o território e este Museu, não sendo a panaceia para todos os males, é, sem margem para dúvidas, uma boa medida. O barrete é, ainda hoje, uma imagem de marca dos trajes tradicionais. Era utilizado pelos nossos pescadores, mas também pelos agricultores e pelos campinos. Confesso que não sabia que o barrete que os nossos lobos do mar usavam, em tempos idos, como agasalho do frio, do vento e da chuva, mas também do sol, e que servia de algibeira para guardar os trocos ou o tabaco, era produzido aqui tão perto. Imagino como seria transportado no final do século XIX e até meados do século XX. Por tudo isso, é hora de, no meu caso, tirar o chapéu a esta ideia do Museu e, literalmente, enfiar o barrete.