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Aos 54 anos, Paulo Sérgio mantém seu ar juvenil. Sempre sorridente, confiante, brincalhão. Mas basta começar a entrevista, que ele se transforma. Como fazia nos tempos do terrão do Corinthians, campos sem gramado, perto do Parque São Jorge.

E seguiu da mesma forma na intensa, e vitoriosa, carreira de 15 anos.

Quer seja no Corinthians, no Novorizontino, no Bayer Leverkusen, na Roma, no Bayern de Munique, Al-Whada e no Bahia.

A seriedade, o foco na carreira, o fez desenvolver seu físico, sua incrível velocidade, explosão muscular, para poder aplicar os dribles, rasgar os sistemas defensivos adversários.

O toque final era a visão tática diferenciada. Situação que o fez atuar onde era necessário.

Paulo Sérgio estava no time que venceu o primeiro Brasileiro pelo Corinthians, em 1990. Assume que a equipe de Nelsinho jogava em função de Neto, que viveu os melhores seis meses na carreira.

"O Bugalu (apelido de Neto)estava encantado. Foi incrível o que ele jogou. Não demos chance para o São Paulo, do Telê Santana. Time que seria bicampeão mundial. O Corinthians jogou muito para conquistar aquele título."

Mas os alemães do Bayer Leverkusen estavam acompanhando, por anos, Paulo Sérgio. Sabiam que ele tinha o perfil de atleta que desejavam: talentoso, vibrante, tático e muito sério em relação à carreira.

"Casei cedo, tive meus filhos cedo. Essa estrutura de família foi fundamental para as escolhas que fiz. Por isso pude enfrentar o choque cultural de jogar na Alemanha. Cheguei bem no início da reunificação."

Paulo Sérgio lembra que teve de vencer pressões inesperadas.

"Era como se eu estivesse 'roubando' o lugar de um alemão. Mas não esmoreci. E me tornei ídolo do time. Como eu havia prometido, conseguimos o vice alemão e o direito de disputar a Champions. Fui tão bem que a Roma me comprou."

Ao chegar na Itália, teve um episódio de racismo. Faixa dizendo que a Roma era 'para brancos'. "Mas os torcedores organizados me chamaram e disseram que a faixa tinha sido colocada por rivais. Eu acreditei. Seguiu jogando, cada vez melhor, e nunca mais houve nenhuma manifestação racista. Estava tão bem que chegou o Bayern de Munique."

Em Munique, Paulo Sérgio viveu momentos de glória. Com a conquista da Champions, do Mundial, os dois títulos alemães.

Sua postura foi tão marcante na Alemanha que é hoje embaixador da Bundesliga, ou seja, do Campeonato Alemão pelo mundo. As viagens são constantes. Foi difícil encontrar horário para a entrevista.

Um período à parte na vida esportiva de Paulo Sérgio está reservado à Seleção Brasileira.

"Fui prejudicado porque iria disputar as Eliminatórias para a Copa dos Estados Unidos. Os dirigentes do Bayer Leverkusen foram claros. Ou as Eliminatórias ou a gente não vai contratá-lo. Tive de dizer não ao Parreira."

Mas o técnico campeão do tetra não se esqueceu dele. "Mesmo com o acesso difícil aos jogos que fazia na Alemanha, ele sabia que vivia uma fase excelente. E me levou à Copa. Encontrei uma Seleção muito machucada pela perseguição da imprensa, da torcida. Pela campanha nas Eliminatórias. Mas nos juntamos de uma maneira incrível. E o time era muito bom. Jogamos para ser campeões. Com segurança e inteligência tática. Não aceito o desprezo ao tetra."

Paulo Sérgio lembra de Dunga levantando a taça e xingando muito. "Era raiva acumulada", brinca.

Apesar de estar melhor ainda, na época de convocação para o Mundial de 1998, foi esquecido por Zagallo. "Ninguém na Alemanha entendeu. Eu estava jogando bem demais. Acredito que fui injustiçado. Mas o Zagallo tinha as suas preferências e respeito."

Fez sua obrigação, lançou sua biografia: 'Transformado para Vencer.'

Com visão aguçada de futebol, se tornou um ótimo comentarista. Trabalha na TV Gazeta, de São Paulo.

"O futebol me deu tudo. Sou muito grato por ter entendido que precisava respeitar a minha profissão. A minha vida só é, o que é hoje, por conta dessa compreensão."