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Quando eu tinha por volta de oito anos de idade, eu e os meus irmãos vimos o mar pela primeira vez.

Nossas viagens em família eram raríssimas, porque para o meu pai não existiam férias.

Lembro da minha sensação ao ver a imensidão do mar e não ter um adulto com quem dividir o êxtase que senti, embora os meus pais estivessem lá.

Eles eram tão sem traquejo ou habilidades sentimentais que, mesmo sabendo que não conhecíamos o mar, não conseguiram acolher ou compartilhar das nossas emoções.

O meu sentir geralmente era solitário, introjetado e vivido em silêncio pelo lado de dentro.

Meus sentimentos vinham para mim como uma língua diferente, que tentavam sem sucesso emergir dos meus poros, e que eu não conhecia. Eu nunca escutei meus pais falarem sobre a capacidade de sentir. Era algo só meu?

A minha infância passou por mim sem que eu tivesse tido oportunidade de dominar essa língua estranha, de sensações espontâneas, incontroláveis, de um corpo que fala sem emitir sons.

A infância e também a adolescência foram marcadas por um sentir incompreendido, sem eco, que não tinha possibilidade de transbordar e ser decodificado. Era um sentir autodidata e ermitão, de uma única sobrevivente de um naufrágio.

Minha autoimagem era murcha, e não era culpa do espelho. Era interno. 

Eu gostaria de voltar lá e dizer para aquela menina que ela não passaria a vida toda sozinha no seu sentir. Ela aprenderia a amar sua própria companhia e incentivaria outras mulheres a fazerem o mesmo. 

Ela encontraria seus pares, e seriam muitos: amigos, mestres, filhos, netos. 

Ela iria florescer, com muitas flores e frutos!

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Lembrando que o Podcast Sozinha de si é um projeto de acolhimento através de histórias anônimas, manda a sua história pra mim: ghostwriter@maabbondanza.com