Em busca das memórias inaudíveis.
Assentamento Rural 12 de Outubro
Mogi Mirim (SP)
30 de dezembro de 2018
Dando prosseguimento ás buscas das memórias vivas que (re)existem e resistem diante das vozes e discursos elitistas e patriarcais, fomos ao encontro de Maria Glória Mariano de Oliveira, 57 anos que reside no Assentamento 12 de Outubro ( Vergel) no município de Mogi Mirim (SP). Glória, como é conhecida, mora em uma casa toda de madeira que fora construída exclusivamente pelo seu pai que transportava com a ajuda de um cavalo as madeiras que encontrava para serem utilizadas na construção da casa em que ela vive até hoje.
Durante o bate papo, Glória relembra de como foi a sua chegada e da sua família para o até então Acampamento do Sem Terra no incio dos anos 90. Partindo de charrete, ela veio juntamente com seus pais e irmãos em busca de um pedaço de terra para poderem habitar e plantar. A luta foi enorme, Glória relembra as dificuldades terríveis que ela e todas as outras pessoas acampadas vivenciaram, principalmente nos 3 anos iniciais que ficaram na condição de acampados. O frio, calor, chuva e a fome eram constantes sobre as lonas nesse momento da luta pela terra. Por outro lado, Glória narra a união entre as pessoas e os mutirões que aconteciam com intuito de cada um se auxiliar nesse processo da luta.
Além disso, Glória ainda tem o desejo de retomar a ideia de sua falecida mãe que é a criação de uma horta medicinal no local. E, diante dessa ação a intenção é promover a troca de saberes e experiências entre as mulheres do Assentamento. Outro aspecto bastante interessante durante a coleta do depoimento foi o de descobrir a mulher inventiva e múltipla que é Glória. Uma mulher que faz inúmeros trabalhos com tear usando retalhos de tecidos, a produção de tapetes, confecções de biquinis de croché, a criação de bonecos confeccionados com palha de milho e fibra de bananeira, a construção das vassouras e entre outras coisas.