Nessa segunda edição do podcast Pedalada – Ecologia Audiovisual , estamos apresentando o áudio com a entrevista realizada com Crescencia Modesto dos Santos, conhecida com Pequena, moradora na comunidade de Pau Seco na zona rural do município de Araci (BA). Essa entrevista nos foi concedida no dia 16 de fevereiro de 2017.
Pequena nos explicou sobre como acontece a Festa do cariru, ela , mesmo, é uma das pessoas da região que organiza e oferece o Cariru há mais de 30 anos. Pequena nos contou sobre como funciona a festa do Cariru, sobre a comida oferecida no dia da festa; nos contou sobre as musicas que são tocadas durante toda a duração da festa que pode se estender até o dia seguinte ao som de muito samba de roda, cantoria de reis e samba pra fazer com que os orixás incorporem nas pessoas que estão dançando nas rodas de samba. Outro aspecto mencionado sobre a festa é no que se refere às 14 ou 21 crianças que participam do processo ritualístico da festa, vestidas especificamente para esse dia, onde se é oferecido um jantar inicial para as crianças por parte dos donos da casa que estão promovendo a Festa do Cariru. Após as crianças se sentarem ao chão, em circulo e comerem o jantar oferecido, é, à partir daí que a comida é oferecida aos donos da casa e ao restante de todas as pessoas presentes na festa.
Pequena também nos disse sobre o desinteresse de boa parte das pessoas, inclusive, as mais jovens em prosseguir com essa pratica, essa cultura. Hoje em dia o Cariru oferecido por Pequena é bem mais simples e modesto , e, se, resume em oferecer um ou dois bolos, refrigerantes e doces para algumas crianças que participam; e, a reza, destinada ao santo homenageado no Cariru, nesse caso especifico é para São Cosme e Damião. Diferentemente de outros Carirus que ainda são oferecidos na região, onde se caracteriza pela presença de pessoas vindas de distantes povoados e comunidades da região , com a confecção de muita comida, como, galinhada, vatapá e quiabo; conta-se com a presença dos músicos cantadores de reis e de samba de roda e a festa muitas vezes costuma se estender até o amanhecer do outro dia.
Pequena nos disse sobre a incorporação dos santos durante os sambas de roda que acontecem na festa do Cariru. Mas, ela nos lembra que o santo não incorpora em qualquer um, não. Tem as pessoas certas, preparadas para recebe-los, e , nos diz que o momento do baixar do santo é algo emocionante e de uma sensação muito gostosa, agradável.
Além das histórias referentes ao Cariru, Pequena nos falou sobre a sua atuação como benzedeira e de como essa pratica está cada vez mais escassa na região, e de como os mais jovens em geral não tem mais interesse em aprender as rezas e as técnicas de benzimento.
Os relatos de Pequena também se direcionam sobre os encantamentos que acontecem sobre tudo, próximo ao rio Itapicuru e nas regiões de serra por todo o território. Ela nos falou sobre o espírito conhecido como Mãe D `água que costuma aparecer para as pessoas no rio Itapicuru e também sobre a Caipora, que é um espírito protetora das matas e dos animais; e que costuma arear, confundir as pessoas que sobem as regiões de serra, principalmente , as pessoas com a intenção de caçar animais. As pessoas areadas pela Caipora encontram dificuldades para acharem o caminho de volta pra casa e portanto, ficam perdidas e precisam contar com a ajuda de outras pessoas para realizarem o seu resgate e assim encontrarem o caminho de casa.
Pequena falou também, sobre a misteriosa ave Acauã, da família do gavião. A Acauã é muito conhecida na região pelos seus diversos cantos , e desses cantos, os mais curiosos são o canto anunciando chuva e o canto que anuncia a morte. Segundo as pessoas que moram na região, quando a Acauã emite o canto anunciando morte, é certeza, que alguém vai morrer dentro de no máximo três dias.