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Olá.

SextaDiferenteComece lendo, de trás para a frente.

Entre cerejeiras, pares de hashi, pequenos goles e um bj, boa leitura e bom fim de semana.

TEMPOS I

A sabedoria, pobrezinhaNo fundo da salaCala.

O verso fazJunto com a grafiaCuriosa poesia.

Prudência, serenidade (eram)Amigas, (agora)Palavras antigas.

FLORES

Riso, mão e florJanela, rua e arSaudades, mato e mar.

A Margarida, simplesAmadaÉ a flor mais desenhada.

PerfumesDas flores?Só nomes.

TEMPOS II

De jardas em jardasNão seiQuantos metros já andei.

Esperando, paradoEm vãoA terceira dentição.

SonheiAmoresAcordei, dores.

Vitor Bertini

* Verdade / Hai-Kai é ficção / por definição;

* Sexta, dia 12 de novembro, tem mais;

* Mensagem na garrafa: você que chegou até aqui por curiosidade, gosto ou preguiça, ajude o autor clicando em qualquer botão vermelho perdido por aí.

FATIAS DE LIVRO

O Haiku aparece em geral nos nossos dicionários com a grafia de Hai-Cai por dois motivos básicos: o primeiro, a guerra que os filólogos patrícios resolveram deflagrar à linda letra K, pelo simples fato dela ter aquele ar agressivamente germânico e só andar com passo de ganso. A batalha é, evidentemente, perdida, inclusive firmando-se na imagem, hoje quase mítica, de JK, também artificialmente banido da vida política brasileira.

O segundo motivo do não-uso da grafia Haiku é a homofonia da segunda sílaba com outra palavra da língua portuguesa, designativa de certa parte do corpo de múltipla importância fisiológica. Essa palavra os filólogos só usam a medo. Quando a colocam no dicionário fazem sempre questão de acrescentar (chulo). Assim, entre parênteses.

Resolvi - e não entro em detalhes para não alongar esta explicação - usar a grafia (comprometida) Hai-Kai.

O Hai-Kai é um pequeno poema japonês composto de três versos, dois de cinco sílabas e um - o segundo - de sete. No original não tem rima, que geralmente lhe é acrescentada nas traduções ocidentais. A época do aparecimento do Hai-Kai é controversa, e sua popularização deu-se no século XVII, sobretudo através da produção de Jinskikiro Matsuo Bashô, simbolista inspirado profundamente em impressões naturais (sobretudo paisagísticas) e adepto do Zen:

A nuvem atenuaO cansaço das pessoasOlharem a lua.

Apesar de sua forma frágil, quase volátil, dependendo da imagística mais do que qualquer outra poesia, uma implosão, não uma explicitação, o Hai-Kai é, contudo, uma forma fundamentalmente popular e, inúmeras vezes, humorística, no mais metafísico sentido da palavra:

Roubaram a carteiraDo imbecil que olhavaA cerejeira.

Meu interesse pelo Hai-Kai como forma de expressão direta e econômica começou em 1957, quando eu escrevia uma seção de humor (Pif-Paf) na revista O Cruzeiro.

Passei a compor alguns quase semanalmente, usando, porém, apenas os três versos da forma original, não me preocupando com o número de sílabas.

Hai-Kais, Millor Fernandes, Coleção L&PM Pocket vol.27

Preço? Menos do que uma fatia de pizza.



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