Saudações, caros ouvintes! Neste episódio de 'Dois Dedos de Cultura', embarcamos numa viagem no tempo pela rota dos Templários. Este é o terceiro episódio dedicado a este fascinante tema. Caso tenham perdido os episódios anteriores, convidamos a ouvi-los em podcast nas redes sociais da Rádio RCS Novo Tempo. Basta selecionar o programa 'Dois Dedos de Cultura' e escolher o episódio 1 ou 2 de 'Templários'. Também podem encontrar estes temas na plataforma Spotify.
Recordamos que, nos episódios anteriores, explorámos a fundação da Ordem, o seu crescimento militar, económico, político e religioso, bem como a sua destruição pela ação do rei francês Filipe IV e a sua continuidade em Portugal sob o nome de Ordem de Cristo. Apesar do seu impacto, a trajetória dos Templários não esteve isenta de controvérsias, como abordámos nos episódios 1 e 2.
Em 1307, muitos Templários foram presos e acusados de heresia por ordem do rei Filipe IV de França. Em 1312, o Papa Clemente V decretou a supressão da Ordem dos Templários em toda a Cristandade, culminando na sua extinção oficial em território português em 1319. No entanto, em Portugal, o rei D. Dinis defendeu a Ordem, protegendo-a das pressões externas. Os bens e terrenos dos Templários foram transferidos para uma nova ordem, a Ordem de Cristo, uma continuidade espiritual que reunia antigos Templários e que mais tarde deu origem a inúmeras lendas e mitos.
Entre os historiadores, existem controvérsias sobre a influência dos Templários na fundação de Portugal e o seu papel nos Descobrimentos Portugueses. Alguns estudos defendem que a aliança templária foi crucial para o fortalecimento do reino, contribuindo para batalhas como a de Ourique, que marcou a história de Portugal e está retratada no brasão de armas da nação portuguesa.
Falar dos Templários em Portugal é falar de Tomar, sede da Ordem do Templo desde 1160. O Castelo de Tomar, assim como outros construídos pelos Templários, são castelos mais eficazes, com nova tecnologia, castelos de vanguarda. Em Tomar, o poder desta Ordem era enorme, com o Convento de Cristo a ocupar 45 hectares. Na sua origem, no século XII, existia no cimo do monte a Alcáçova, a Torre de Menagem, a cinta muralhada que envolvia a vila de Tomar e a famosa Charola, uma peça arquitetónica única.
Em Tomar, os métodos e inovações dos Templários moldaram a arquitetura militar. A Torre de Menagem, comum em castelos portugueses, foi uma inovação introduzida pelos Templários, funcionando como um ponto de observação, defesa e residência. Outra inovação é o alambor, uma estrutura defensiva na base das muralhas que dificultava os ataques inimigos. Na Península Ibérica não há nenhum alambor tão grande e de tanta monumentalidade como este de Tomar. Introduziram ainda o Hordício, uma proteção em madeira sobre as torres que permitia aumentar o ângulo de tiro e a eficácia dos defensores.
O monumento, a Charola de Tomar, é o monumento templário mais bem conservado em toda a Europa. Um monumento belíssimo com pinturas lindíssimas, no seu interior. Ele é a evocação do templo de Jerusalém por parte dos cavaleiros templários. A sua construção teve como objetivo a celebração da ressurreição de Cristo e é, sem dúvida, inspirado no Santo Sepulcro de Jerusalém. Tornou-se assim um símbolo desta herança militar e espiritual.
Continuando na rota dos Templários, temos a Torre de Dornes, também conhecida como Torre Templária, uma torre pentagonal que foi mandada erguer por Gualdim Pais, o mestre da Ordem do Templo e fundador da cidade de Tomar. Este mestre, Gualdim Pais, que foi o grão-mestre da Ordem de Cristo, foi um dos que lutou lado a lado com D. Afonso Henriques na luta pela Reconquista Cristã. Esta Torre de Dornes é uma torre de defesa e de domínio do território e de controlo do rio Zêzere que, pela sua contextualização histórica e territorial, é a maior atração turística histórico-militar de Ferreira do Zêzere. No interior desta torre encontram-se estelas funerárias templárias e o espaço possui uma abóbada de tijolo com uma inscrição. No século XVI, após ter perdido a sua função defensiva, a Torre de Dornes foi transformada numa torre sineira. É um exemplar único de arquitetura militar românica que vale a pena conhecer, não só pela sua localização privilegiada, na magnífica Península de Dornes banhada pelo rio Zêzere.
E claro, não poderia deixar de falar do famoso Castelo de Almourol. O Castelo de Almourol está erguido numa pequena ilha do rio Tejo e ele é um dos mais emblemáticos castelos medievais portugueses ligado à memória dos Templários. Foi concluído em 1171, durante a intensa atividade construtiva de Gualdim Pais, também responsável pelo Castelo de Tomar. Apresenta características típicas da arquitetura militar templária, como uma planta quadrangular com muralhas altas, com nove torres circulares e também claro uma Torre de menagem central.
Assim vemos que, hoje em dia, os vestígios dos Templários são incontáveis e continuam a encantar-nos. Temos um património arquitetónico como o Castelo de Tomar, o Convento de Cristo, que são testemunhos vivos de uma era em que os Templários fizeram da defesa, da inovação militar e da espiritualidade uma arte. Temos também um conjunto de lendas e de mitos, desde a associação dos Templários com os Descobrimentos, até às origens que os ligam à Maçonaria e a outras tradições. O seu legado é de facto envolto num manto de mistério que nos fascina. E temos também influência destes Templários, já tivemos oportunidade de falar disso no segundo episódio, influência no desenvolvimento do país. É evidente que a sua ajuda na Reconquista e na organização territorial, a sua criação de infraestruturas e o fomento do comércio, contribuíram para o alicerce daquilo que viria a ser a nação portuguesa.
Em resumo, a presença dos Templários em Portugal vai muito além de recordações de um passado turbulento. Eles foram pilares fundamentais na defesa, na organização, no desenvolvimento do nosso território, deixando marcas profundas na arquitetura, na economia e também na espiritualidade do país. Ao refletirmos sobre este legado, recordamos que a história é feita de alianças, de inovações e muitas vezes de controvérsias, mas sobretudo ela revela as raízes de uma nação, que tal como os Templários, soube transformar desafios em conquistas. Obrigada por nos acompanhar nesta viagem histórica! Fiquem atentos aos próximos episódios onde continuaremos a explorar enigmas e histórias que moldaram Portugal. Até lá eu desejo uma boa semana abençoada por Deus. Até breve!