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Eu gostaria de conseguir escrever neste espaço todos os dias. Mas o que ando fazendo com o tempo (ou o que o tempo anda fazendo comigo) que não consigo parar todos os dias por alguns minutos que seja?

Eu pergunto mas eu mesma posso responder: são nove horas no mínimo dentro de um escritório, com direito a uma pausa de uma hora para almoço, mais três ou quatro horas em sala de aula ou em preparação para a aula, somadas a umas três horas diárias no trânsito (sim - três horas NO MÍNIMO), que já totalizam algo em torno de dezesseis horas.

Nas oito horas que restam eu costumo gastar uma hora em banhos, café da manhã e lanche da noite, o que significa que tenho no máximo sete horas para dormir. No entanto, perco uma meia horinha por dia brincando com os cães e mais uma meia hora conversando com o marido. Nas outras seis horas eu tento dormir, mas como não consigo relaxar enquanto não leio uma página pelo menos acabo dormindo umas cinco horas e meia.

Conclusão: eu trabalho demais, moro numa cidade com um trânsito infernal, leio muitíssimo pouco (ainda mais se considerarmos a pilha na cabeceira), não escrevo tanto quanto eu gostaria, vejo muito pouco meus amigos, não conheço a cidade como eu deveria e não assisto a todos os filmes que desejo.

Mas o que me intrigou é que nesse último feriado de 7 de setembro eu passei quatro dias no alto de uma montanha localizada numa cidade habitada por 4.000 pessoas.

Na descida da montanha, já no domingo à noite, me deparei com a igreja da cidade lotada de fiéis durante a missa das seis horas. Na praça em frente à igreja, inúmeras crianças (creio que todas da cidade) brincavam sozinhas no coreto (coreto!), enquanto alguns casais namoravam sentados nos bancos da praça (infiéis, pelo jeito).
Ali parecia que o tempo tinha parado. Não havia um carro em movimento. Não havia uma pessoa apressada. Eu poderia jurar que estava em outra dimensão.

O problema é que ao mesmo tempo em que eu estava maravilhada com a constatação de que o tempo existe, eu me perguntava como é que alguém poderia viver daquela maneira. Como as pessoas conseguiam, num domingo à noite, simplesmente sentar no banco da praça e ficar olhando para o "nada"?

Aquele encantamento, no momento dessa pergunta, se transformou em tristeza, pois percebi que nós, da cidade grande, já nos acostumamos tanto com o fato de que o tempo deixou de existir que quando nos deparamos com ele ficamos assustados, por mais que passemos nossos dias atrás dele.

Lu Gerbovic

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