
Ele está lá fora: o sapo.
O sapo é grande e gordo e marrom e pegajoso e nojento.
O sapo não é mal, mas fica lá fora a me prender aqui dentro. Eu não posso ser livre com o sapo lá fora porque o medo aprisiona.
O sapo não me olha, mas está lá fora.
O sapo é MUITO grande e MUITO gordo.
O sapo existe. Existe desde que eu era criança.
O que eu sinto pelo sapo? Nada, porque ele me paralisa. Eu não penso, não respiro, não me movo e meu coração não bate. Então eu não sinto nada pelo sapo porque ele não me deixa sentir.
O sapo me mata. O sapo.
Eu não desgosto do sapo, mas a existência do sapo não me deixa existir. Ou ele ou eu no mundo.
Mas por que o sapo? Por que não a lagartixa, a borboleta, o gafanhoto, a barata, a galinha, o leão ou o elefante?
Será por que o sapo é feio? Mas a feiúra depende de quem vê.
O sapo é feio? Não sei, porque o sapo não me deixa ver. Quando vejo um sapo só enxergo o nada.
O sapo é grande. O sapo é enorme. O sapo tenta pular. O sapo tenta andar. O sapo só fica parado. O sapo me pára.
O sapo não lava o pé, não lava porque não quer.
O sapo está lá fora e eu aqui dentro. Ele nã entra. Eu não saio. Nunca enquanto ele estiver lá.
O sapo vai me matar!
O sapo no fundo é bonzinho. Só o homem é malzinho mesmo.
Lu Gerbovic

Esse áudio está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
.
.
.
.
.
.
.