Aqui é Simone Ferro e hoje eu tenho o grande privilegio de entrevistar a ativista, líder comunitária e defensora dos direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais, Rosa Tünycwyj Tremembé.
Rosa nasceu em Acaraú, no Ceará, filha e neta de cearenses do povo Tremembé — um povo indígena tradicionalmente andante, com forte presença no litoral do Nordeste, entre o Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e até o Amazonas. Sua família sempre manteve vínculos com o Maranhão, especialmente nas regiões de Raposa e Cumbique.
Desde criança, Rosa vivenciou a luta do seu povo por território e dignidade. Seus pais migraram entre Ceará e Maranhão fugindo de conflitos fundiários e da seca, mantendo viva a tradição de resistência. Criada em ambiente simples, Rosa aprendeu com os pais e avós os costumes Tremembé: a alimentação tradicional, os remédios caseiros, os rituais do Torém e o valor da terra como espaço sagrado.
Em Fortaleza, viveu parte da juventude, estudou e trabalhou como professora. Foi também nesse período que se aproximou das Comunidades Eclesiais de Base e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). A partir dessa vivência, reencontrou suas origens e fortaleceu seu engajamento nas lutas pela visibilidade e pelos direitos dos povos indígenas. Inspirada em mulheres como sua avó Rosa e Chica da Lagoa Seca — guardiãs da memória e do Torém —, assumiu sua identidade com orgulho e coragem, transformando sua trajetória pessoal em um ato político e coletivo.
No Maranhão, Rosa consolidou seu compromisso com a causa Tremembé, participando da articulação de núcleos de apoio, da defesa territorial e da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Sua trajetória representa a força feminina e a resistência contínua de um povo que, apesar das perseguições e do silenciamento histórico, insiste em existir, falar e celebrar a vida em comunhão com a natureza.