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O Brasil foi o país que mais recebeu africanos escravizados no período de 1501 a 1900: 5 milhões de africanos foram transportados para cá e vendido e outros 670 mil morreram no caminho; nas Américas, 14 milhões de africanos foram escravizados (dados do The Trans-Atlantic Slave Trade Database). Mesmo com presença tão marcante, porque ouvimos tão pouco sobre a influência africana na culinária brasileira? Porque achamos bonito falar sobre a bagagem cultural trazida pelos imigrantes europeus e japoneses ao nosso país mas nada dizemos nem sabemos sobre os africanos? A resposta é dura e direta: racismo estrutural que desemboca no apagamento da profunda influência africana na cultura brasileira, especialmente na gastronomia.A culinária brasileira é rica graças também a vasta criatividade africana. Eles trouxeram para nossas terras temperos como pimentas, leite de coco e azeite de dendê - sem falar no coco, na banana e no café. Foram os africanos que introduziram nas Américas o feijão preto e criaram a feijoada: os cozidos, aliás, eram uma maneira de fazer a comida alimentar mais pessoas. Pratos como acarajé, vatapá, caruru, só para citar alguns, são inspirados na cultura africana.Na falta do inhame, usaram a mandioca; carentes das pimentas africanas, usaram o azeite-de-dendê, que já conheciam da África (as primeiras árvores vieram no começo do século 16). A rabada, prato típico da África do Sul, tem temperos diferentes da versão brasileira, como cravo e alcaparras. A canja de galinha brasileira é uma versão da de Guiné-Bissau, preparada com tomate e hortelã. O baião de dois foi inspirado no Waakye do Gana, feito com caldo de camarão e tomate, além do arroz e feijão."O último estágio dessa diáspora culinária foi a migração forçada de africanos para as Américas por meio do tráfico de escravos, a partir do século 15, que trouxe inúmeros artistas culinários e agricultores experientes à costa atlântica que se estendia da Argentina à Nova Escócia. O influxo contínuo e o aumento constante de africanos no Caribe e na América do Sul no auge do comércio da escravidão humana ironicamente rejuvenesceram a contribuição cultural africana e promoveram uma revolução culinária sob a influência dos africanos que permearia todos os aspectos da culinária e da culinária em áreas rurais e urbanas de todos os países das Américas" (Diane M. Spivey, historiadora)Para conversar sobre a influência africana na cozinha brasileira, nossa convidada é Aline Chermoula. Aline é cozinheira, historiadora, criadora da Chermoula Cultura Culinária e dedica-se a pesquisa da gastronomia da Nigéria e Angola.

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