Listen

Description

Esta é a primeira conversa da nossa quinta memória, dedicada ao ódio.

Léon Daudet era um escritor de algum talento. Mas era um autor que detestava, detestava e detestava. Logo nas primeiras páginas anuncia-se que o autor detesta a democracia. Detesta o parlamento e o parlamentarismo. Detesta a ideia de que a ciência "não tenha pátria nem fronteiras”. Detesta a ideia dos Estados Unidos da Europa (mais sobre isto à frente). Detesta a ideia da igualdade, e a ideia de que “o povo queira igualdade”. Detesta a ideia de que “a democracia seja a paz”. Detesta a ideia de que “a ciência seja boa e que o futuro pertença à ciência”. Detesta a ideia da "instrução laica” e mais ainda a ideia de que “a instrução laica seja a emancipação do povo”. Detesta “a igualdade entre religiões”. Há muitas razões para acreditar que o século XIX tenha sido estúpido, como há muitas razões para encontrar estupidez em todos os séculos da história da humanidade. Mas as três primeiras razões que Léon Daudet encontra para chamar ao século XIX estúpido não são as que, à partida, estaríamos levados a prever, mas antes estas: “1. O Século XIX é o século da ciência. 2. O Século XIX é o século do progresso. 3. O Século XIX é o século da democracia”. Sublinhe-se: estas são as palavras de Daudet – a ciência, o progresso e a democracia são três razões não para amar mas para odiar o Século XIX. Parafraseando Daudet, a ciência, o progresso e a democracia são três principais razões que fazem do século XIX estúpido. Daudet odiava o século em que nascera pelas poucas razões pelas quais nós hoje ainda o poderíamos prezar.

Conheça os podcasts do PÚBLICO em www.publico.pt/podcasts