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Description

O entendimento que as crianças têm a respeito da vida, normalmente é bem diferente do que a visão dos adultos. E não só pela inocência, mas pela simplicidade com que os problemas são resolvidos por meio da criatividade. Mesmo que esses problemas tenham um significado muito mais profundo e sério, como o preconceito puro e ignorante pela cor da pele. Talvez, por isso, uma criança negra, discriminada de todas as formas possíveis, deseje ver a vida através de outros olhos que não os seus. E é nesse contexto que se desenrola “O olho mais azul”, publicado em 1970 pela escritora Toni Morrison.

O livro traz inúmeros tipos de violência sofridos por conta da cor de pele, mas não só por isso e nem sempre cometidos por brancos. A temática do racismo e o preconceito conduzem toda a história, com suas diversas nuances que vão revelando pouco a pouco os motivos de agir de cada personagem. Apesar da brutalidade do tema, a norte americana Toni Morrison consegue humanizar as motivações pessoais apresentando, antes, o sofrimento e as injustiças vividas por todos os personagens que se entrelaçam nesse drama. E nesta obra, a autora, primeira mulher negra a receber o prêmio Nobel de literatura, mostra que a honraria feita em 1993 foi devidamente justificada.

A escrita de Toni Morrison é leve, fluida e a forma de contar as emoções ocorridas com cada personagem, nos faz ter compaixão pela vida de cada um. Apesar disso, a escritora não deixa de mostrar o lado perverso de alguns deles mesmo antes de nos mostrar as motivações que os tornaram cruéis. E aqui temos um ponto interessante que é a maneira de abrir os capítulos, em que Morrison vai resgatando a vida pregressa de um personagem específico para justificar suas escolhas do presente e assim continuar os acontecimentos que levam aos tristes momentos finais. Uma leitura densa e assustadora ao mesmo que delicada, o que inspira reflexão sobre nossas atitudes no cotidiano. Esse é um livro que merece ser lido por todos.
Por Janary Damacena.