Talvez cada um de nós esteja sempre à espera de algo e, às vezes, nem sabemos exatamente o que estamos aguardando até que esse “algo” aconteça repentinamente. E essa a sensação que a leitura de Remissão da Pena nos passa. No livro, percorremos um pedaço da infância de Patoche, a criança que narra a história, e seu irmão menor. A cada página, surgem acontecimentos peculiares na vida das crianças que moram sem os pais, com pessoas muito exóticas e diferentes entre si. É como se fosse uma lembrança fiel da inocente visão de um garoto sobre fatos que vão sendo interligados e nos "revelando" que algo maior está sempre prestes a acontecer.
O tom melancólico, que permeia toda a escrita de Patrick Modiano – francês ganhador do prêmio Nobel de literatura em 2014; colabora com um ar de tristeza acentuado pelas dúvidas dos meninos que estão sempre a esperar alguma coisa. Seja a mãe, que supostamente está viajando com o teatro ou o pai, que mora longe e visita os meninos esporadicamente. Tudo nessa leitura desperta a curiosidade do que está, de fato, acontecendo naquelas vidas. Entre as reflexões de Patoche ou suas conversas com os adultos, é possível captar um pouco sobre o que ocorreu, porém sempre com certa duvida no ar.
Remissão da Pena é o primeiro livro da chamada “trilogia essencial” de Modiano, em que o autor faz uma autobiografia romanceada de sua vida. Sabendo disso, a leitura se torna mais pesarosa nos eventos finais que vão tomando conta da vida das duas crianças que, no fundo, só têm realmente um ao outro. Aflição é uma palavra mínima para descrever o sentimento de quem pensa na solidão desesperadora dos meninos que nada podem fazer, a não ser aguardar que alguém chegue para cuidar deles... é o que fazem... apenas aguardam.