Durante o período das grandes secas, castigados pela situação de extrema pobreza, uma família de retirantes nordestinos atravessa o sertão em busca da sobrevivência.
Essa narrativa apresenta os problemas vividos pela família diante da opressão social e física, com o foco nas experiências de Fabiano, o pai analfabeto e ignorante. Apesar disso, todos os personagens tem um momento único em que demonstram suas percepções acerca do que está acontecendo, e a junção desses olhares nos mostra os motivos de aquelas vidas serem tão secas quanto à região semiárida em que se encontram.
O enredo de “Vidas Secas”, elaborado pelo brasileiro Graciliano Ramos em 1937, é de um impacto profundo porque nos coloca de frente a uma realidade conhecida pelos brasileiros, embora distante para a maioria. A partir da vivência isolada da família, em uma fazenda no meio do sertão, e as circunstancias de determinados momentos, a narrativa contextualiza todo cenário político-social em que estão inseridos ao mesmo em que humaniza e animaliza cada membro da família. E isso fica muito evidente na relação com outras pessoas e com a cachorrinha baleia – praticamente um membro dessa família. Tudo com uma escrita fluida que nos traz reflexão a todo instante.
A forma simples, porém poética da história, nos instiga a continuar a leitura cada vez mais, devorando cada página com a mesma avidez que os personagens têm fome de viver. Como curiosidade, destaco aqui que Graciliano Ramos escreveu o livro a partir de um conto sobre a cachorra da família, e depois estendeu escrevendo os capítulos com a visão de cada personagem, sem uma ligação cronológica entre si, para depois, unificar toda narrativa em forma de um romance. Necessário e obrigatório para qualquer brasileiro.